A comunicação e o universo de uma mãe empreendedora.
- Marcela Elisa
- 5 de out. de 2020
- 4 min de leitura

Quando Chico nasceu, eu já era autônoma do ramo de eventos fazia dez anos. Trabalhava como produtora e viajava para lá e para cá o ano todo. Aí veio a gestação e antes mesmo que a barriga pudesse aparecer, fui dispensada de todos meus compromissos profissionais com o argumento de que seria perigoso andar pelas montagens nos pavilhões Brasil afora. E sim, concordei. No entanto, Francisco está com mais de um ano e meio e até agora, fui chamada para produzir um único evento. Por conta disso, precisei redirecionar minha vida profissional para o tão famoso “empreendedorismo materno”. E com ele, vieram muitas possibilidades de construção de renda para mim e minha família, mas também vieram sobrecarga de trabalho, falta de tempo para curtir meu filho, conflitos entre cuidar de uma cria tão pequena ou assumir mais um trabalho que traria um bom dinheiro e tantas outras coisas boas e ruins que permeiam esse mundo não tão romântico do empreender.
A primeira coisa muito importante de dizer é que o empreendedorismo materno chega na vida de muitas mulheres não por ser “um sonho antigo”. Chega por necessidade. Chega por que o mercado de trabalho exclui e despotencializa uma mãe enquanto profissional competente para exercer os diversos cargos de uma empresa, principalmente, por, na maioria das vezes, a empresa entende que aquela pessoa – aquela mulher – não vai mais render o que rendia depois que se tornou mãe. Segundo pesquisa da FGV realizada em 2017 com 247 mil mulheres entre 25 e 35 anos, 50% das mães são demitidas até seus filhos completarem dois anos de idade. Ou seja, ou empreende ou se vê em um limbo produtivo. Mas isso é assunto para outro texto. O que eu quero trazer aqui é de que forma a mulher-mãe entra no mundo do empreendedorismo. E é assim. Por necessidade, na maioria das vezes.
Partindo deste princípio, de que a mulher começa um negócio pois precisa botar comida na barriguinha da criança que a acompanha, é que a comunicação deste empreendimento tem um tom muito diferente daquele que permeia a das grandes corporações ou dos comércios tocados por homens ou até mulheres que não são mães. Quando se trata de mães, minhas queridas, é preciso olhar por outro prisma e estou aqui para abrir esta porta.
Poderíamos começar nos fazendo as seguintes perguntas: Como poderia ser a comunicação dentro do espectro do empreendedorismo? E mais especificamente: como poderia ser a comunicação para mães empreendedoras? Você acha que é tudo a mesma coisa? Não é. Se considerarmos que a comunicação de um negócio é o que faz a ligação entre o produto ou serviço e seu público consumidor, temos aí uma chave importante para começar a tratar o assunto. Vejamos.
Pela minha experiência de mãe e empreendedora, sabendo da complexidade que é tocar o próprio negócio e cuidar da cria, eu diria que as mães têm uma grande tendência em apoiar umas às outras e, por isso, hoje em dia é muito comum os grupos de mães nos diversos canais de mídias digitais, principalmente, o que nos levaria a uma conclusão que já dá um suporte bastante estável para a comunicação deste negócio.
Em outras palavras, se você é mãe e precisa comunicar seu produto ou serviço, fale para outra mãe.
Nosso público consumidor não se limita a elas, claro que não, mesmo assim, é um público leal e que manifesta grande empatia. Então, se focarmos a comunicação do nosso trabalho para um público que, diga-se de passagem, se assemelha a nós mesmas, temos grandes chances de acertar precisamente. É o que os especialistas do marketing chamam de pequeno nicho.
O pequeno nicho nada mais é do que tornarmos nosso público tão específico, que a identificação com nosso produto ou serviço é quase certeira. Por exemplo: se eu, como comunicadora que sou, desenho uma proposta de trabalho para mães que empreendem com doces artesanais para festas infantis, fica muito claro o objetivo do meu trabalho e apesar de parecer que excluirei todas as outras pessoas que trabalham com doces artesanais infantis ou que excluirei todas as mães que trabalham com outros tipos de doces, é aqui que acontece a mágica. Quanto mais focado for seu público consumidor, mais potente e transparente poderá ser sua comunicação, o que gera identificação com o que você faz e, com isso, uma aproximação do seu público com você.
E aqui que tocamos em outro ponto importante da comunicação (falo que é a outra ponta do telefone sem fio). Você.
Agora que já sabemos como selecionar nosso público para que falemos com clareza sobre o que fazemos, é muito (muito mesmo!) importante que façamos uma lapidação de nós mesmas para que contemos nossa história para nossas consumidoras. É isso mesmo que você leu. Quando partimos da nossa própria história, do que nos afeta na vida como mães e empreendedoras, damos mais um passo na aproximação das pessoas que se interessam em nós e em nossos serviços e produtos. Isso acontece porque a identificação com a nossa realidade, nossos posicionamentos perante a vida, nossos desafios, nossas angústias, geram naquela que está do outro lado da ponte (nossa consumidora), um forte poder de atração pelo simples fato de se ver em nós e saber que o que estamos falando é verdade. Aliás, esta é a palavra-chave: verdade.
Então, como um belo resumão de tudo que falei nos parágrafos acima, acredito que nestes tempos em que tudo (ou quase tudo) se tornou digital e não sabemos quando teremos nossa vida em comunidade de volta, é preciso, sim, agir e falar com verdade. E não confunda verdade com certeza, viu? A sua verdade não pode (e não é) a única, mas é inegável que ela é uma verdade para você e certamente é para outras pessoas também. Deste modo, teremos aí o início de uma construção de diálogo e possíveis negócios entre nós e para quem queremos oferecer aquilo que fazemos. Por isso, lembre-se sempre das palavras mágicas para fazer seu negócio gira: pequeno nicho, sua história, verdade, identificação. O restante, tenho certeza de que você fará da melhor forma possível para construir seu próprio negócio.
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