Meu sogro está em coma. Essa é a primeira vez que tenho que lidar com a possibilidade de morte devido ao covid de tão perto. Por si só, já é uma situação tensa.
Além disso, quem nos acompanha, sabe que vivo em ponte Salvador - São Paulo. Eu e minha família materna somos de Salvador. Meu marido, a família dele e minha filha são de São Paulo. Nossa residência é em São Paulo, mas também divido um quarto com minha irmã e minha filha em Salvador. Nesta época de pandemia, passamos mais tempo em Salvador que em São Paulo.
Meu sogro está em Andradina, interior de São Paulo. Um dia, recebemos a ligação do médico amigo: Cara, vem pra cá.
Agora me diz, você conhece algum médico que pede para você aparecer, com parente internado, para dar boas notícias? Pois é, eu não conheço. Médico só liga para dizer que é chagada a hora da morte. Eu estava em Salvador, meu esposo em São Paulo, meu sogro em Andradina. Eu não tive dúvidas quanto a pegar o avião. Tinha uma dúvida: o que eu faço com minha filha? Entre decisões e mudanças de opinião, escolhi não leva-la. O clima era de pura tensão, eu não fazia ideia de como seriam os próximos dias, nem mesmo as consequências da viagem. Era a primeira vez, em quase 3 anos, que eu ficaria longe de minha filha por mais de um dia e noite.
Tenho certeza que algumas mães aqui, vão ler e pensar: nossa, eu daria tudo para uma noite de descanso...ou...pelo amor de Deus, nem pensar em ficar sem meu bebê! E sabe por que eu sei? Porque esse é o sentimento real. É um misto de alívio de poder ficar sem ela, e insegurança de ficar sem ela rs.
Resultado, eu viajei sem ela. No primeiro dia, era muita tensão que nem consegui pensar nela direito. No segundo dia, meu sogro teve uma melhora. Ai a mãe que existe em mim foi ativada novamente. No terceiro dia, avisei a minha mãe: mãe, amanhã tem um procedimento importante e em seguida eu volto para casa. Se você esperava uma resposta do tipo “tudo bem” A resposta dela: volte logo que Maria não está bem. O que eu fiz? Corri pro aeroporto.
Minha filha teve 2 dias de prisão de ventre; quando as pessoas perguntavam de mim, ela ficava chorosa; e estava muito pedindo colo, ou seja, demonstrando inseguranças. A gente sempre escolhe né. E ai novos sentimentos aparecem. Um misto de insegurança do que fazer, de me sentir constantemente sob pressão. Sentimento de aprisionamento, sentimento de culpa (óbvio), e sentimento até de castigo por minhas escolhas. Como se ser mãe fosse um castigo pelo qual temos sempre que pagar, com muito amor. Ser mãe, por si só, é tenso. Passaram-se 3 dias. Eu peguei de novo o avião e cá estou, em Andradina, com meu esposo e minha filha.
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