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Foto do escritorMestrado Maternidade

Adoção: encontro premeditado entre almas.

Por Guilherme Pimentel

Ser adotado é uma benção que meus antepassados deram a mim, é um encontro premeditado entre almas que uma vez se encontraram e não podiam esperar outra vida pra se encontrar novamente.


Já dizia a minha mãe que quando eu era pequeno falava que eu os tinha escolhido, e não posso negar que lembro de alguma coisa assim.


Difícil escapar dos comentários:

Você sabe que você não é dessa família certo? (Quando eu era criança)


Ou na escola quando declarei que era adotado na aula de Orientação Educacional, pra chamar atenção mesmo, e me deparei com olhares do tipo:


Sério? Mas você é igualzinho a sua mãe!


Agora adulto, pra não serem tão diretos ou ofensivos fazem perguntas previstas no comportamento social e que escondem a verdadeira motivação:


Você nunca encontrou a sua mãe biológica?


Quando o que querem mesmo falar é:


Você foi abandonado, eu também me sinto assim, quer conversar sobre a sua experiência pra eu me sentir confortável e falar da minha também?


A minha resposta sincera seria:


Se preocupe primeiro em fazer as pessoas se sentirem servidas (neste caso acolhidas) pra depois você olhar pros seus problemas.

“Endow yourself with the service before you ask for help”.

Essa vem sido a minha métrica de resposta pra quase tudo principalmente para suprimir essa vontade do meu ego (eu, meus problemas, minha carreira) de crescer.


Aprendi primeiro com as inúmeras religões que frequentei, que servir ao outro primeiro é chave pra uma comunidade crescer, se a minha preocupação for o outro, os meus problemas dissolvem-se.


Exemplo: Eu sou ator, sei das técnicas que aprendi, estou em outro país mas me sinto preparado pra encarar qualquer roteiro, antes de eu “pedir” trabalho eu escrevo um filme e gravo partes para entusiasmar as pessoas de trabalharem comigo.


Existe uma palavra que acaba com qualquer dia ruim, chama-se ”obrigado” e quando dita por outro que não se espera é ainda mais confortante, por isso talvez o acolhimento que se precise é de olhar para o outro, ou pras necessidades que se apresentam.


Não necessariamente para resolve-las, mas para ouvi-los, antes de começar a contar seus problemas, escutar as necessidades.


Achamos mães que tiveram filhos pra segurar as bases de um casamento, mães que tomam conta dos filhos porque afinal é isso que a sociedade lhes impõe, mães que inclusive amam seus filhos e não se enxergam na sua posição de mãe, aquela de antigamente que doutrinava e ensinava as crianças a terem educação/valores e etiquetas e que tem uma aproximação maior com seus pimpolhos.


A única mãe que eu tive e que serei eternamente grato por ter é a minha, que cuidou de mim, que me ensinou, que me frustrou, me formou como pessoa e deixou ensinamentos que ainda hoje eu penso: ”se a minha mãe descobrisse será que aprovaria?” que é a precaução para uma futura vergonha pública, ou ”Tô andando e tô sentindo o chão (sujo)!” sobre a dignidade de sentir-se em casa ou ”põe um pouco depois você repete!!” Quando estou a servir-me na companhia de outros, ou ainda ”Preto Guilherme!?” quando vou me vestir ou comprar móveis.


Agora o ”vai lá falar com ela/e e vai pedir desculpas!” Quando a situação exige destruição instantânea do ego é o que eu mais tenho lembrado ultimamente.


Achar este eixo de conexão sincera entre as duas partes é a chave pra você sentir-se acolhido, pessoas precisam de acolhimento, sempre foi natural pra mim fazer amigos porque sempre me senti acolhido onde mais importava, dentro de casa.


Pela convivência possuo uma intimidade maior com a minha mãe do que com o meu pai, mas já ando trabalhando nisso, pois isso não se resolve da noite pro dia.


Já ouvi pessoas reportarem que quando encontram o pai eles cumprem o papel de pais e eles cumprem o papel de filhos: oi tudo bem como está? Tudo bem, e com vocês? Ah, levando...


Isso é o buraco (des)confortável de evitar se deixar vulneráveis de arriscar uma segurança imaginária, status ou posição social, o que antes de sair de casa abandonei ao custo de muitas lágrimas, a separação do que eu achava que eles queriam de mim e decidi ser ator.


Homens tem a obrigação de prover, ser independente e patrocinar uma vida pra sua família,(social bullshit)


Pai: Como anda a sua situação???


Filho: Ahhh, tudo bem...


quando eu já não encontro aquele entusiasmo com o trabalho, quando ando brigando com a parceira, quando penso que vou explodir de tanta pressão dentro e fora de casa.


Antes de eu mudar de país era assim que eu me sentia com meu pai muitas vezes, alguns problemas eram impossíveis de esconder e outros eu fui acumulando dentro de mim.


Hoje a distância provou o quanto ainda precisamos um do outro, quando ele vem visitar por exemplo o nível de amor e compreensão que a gente sente um pelo outro anda crescendo, mesmo sem ele saber muito o que é ser ator e sem eu saber o que é ser pai, é num dos poucos olhares que nos comunicamos um com o outro, “sim eu estou aqui”.


Antes o mundo lá fora chamava muito mais a minha atenção, hoje é a última das coisas que eu me preocupo, se a nossa base familiar estiver solida todo o resto se resolve.


Muitas vezes uma festa surpresa ou um ato de carinho é o que precisa pra esta conexão existir.




Guilherme Pimentel é ator e você pode conhecer mais sobre ele no instagram @gui.pimentell.

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