Acordei 1 hora antes da Lais, lavei o rosto e fui fazer meu café: "Enfim, meu momento...".
No caminho da cozinha, vi a toalha do banho dela da noite anterior jogada no sofá - molhada, claro.
Nisso, escuto a Lais resmungando no quarto e penso: "A mamadeira!". Ela sempre mama entre 7h e 8h e volta a dormir até as 9h. Conclusão: "Depois da mamadeira, eu guardo a toalha". Corro para a cozinha e faço o leite, levo no quarto, espero ela terminar de tomar. Ela dorme e eu volto para a cozinha.
"Ai droga, a toalha!". Nesse momento, o celular toca. Minha mãe veio buscar a Duda (minha cachorra) para trabalhar com ela.
Corro para pegar a ração, coloco a máscara em mim, a coleira nela e saio para o subsolo levar a Duda até ela.
Volto para casa, tiro a máscara, troco o sapato, passo álcool em gel.
Falta meia hora para começar a trabalhar, corro com o café, escovo os dentes, me troco, ligo o notebook.
"Meu Deus, a toalha!".
Volto para a sala e escuto a Lais chamar, são 9h, acordou! Vou até la, dou bom dia, ajudo na preguicinha da manhã.
Ela pede para ir ao banheiro, ajudo e aproveito para tirar o pijama.
Ela pede para ver tv. Enquanto ligo a tv, ela pede a chupeta, enquanto busco a chupeta, ela pede o paninho de estimação. Em seguida, quer água...
Ufa, hora do papai entrar em ação, pois a mamãe precisa voltar para o notebook.
E-mails, reuniões, calls, análises. Por vezes, ela aparece, ganho um beijinho, arrumo uma distração e continuo. Outras vezes, vou lembrando o papai da rotina da fruta, lanche, vitaminas. Em algumas, eu assumo e faço eu mesma.
Chega a pausa do almoço. Hora de dar atenção à ela. "Nossa, a toalha ainda ali! E com outras coisas em cima".
"Mamãe, senta aqui comigo". "Aiai, ok, a toalha pode esperar mais um pouco".
Brincamos ou vemos um vídeo juntas. Saímos para uma voltinha. Eu almoço, dando almoço. "Caramba, já acabou a hora do almoço". Volto para o notebook.
Mais uma leva de e-mails, reuniões, calls, análises, interrupções da Lais, avisos e pausas para a rotina dela.
Cada vez que vou ao banheiro ou buscar um café, vejo a toalha no sofá, mas como tenho que passar de fininho para não distraí-la, acabou deixando pra lá...
Quase 18h, e escuto um barulho seguido de choro. Ela caiu. Vou lá, dou um beijinho. Volto para o notebook. 18h. Ela ainda está chateada por ter se machucado e não ter recebido a atenção esperada.
Dou uma mimadinha. Pergunto do que quer brincar. Começa a correria das brincadeiras. A Duda chega.
Começo os avisos do banho que está próximo. Dou o jantar, seguido de protestos na maioria das vezes.
Vamos emendar o banho? É mais ou menos 20 minutos para convencê-la a ir sem choros.
Hora do agachamento para lavar o cabelo também sob protestos. Ela grita que não quer. Eu falo que precisa. Ela foge. Eu busco a distração de um brinquedo. Enquanto se distrai, vou molhando o cabelo como quem não quer nada. E assim vamos conseguindo.
Já não aguentando mais ficar agachada, e próximo da conclusão do enxague, eu grito para o papai "A toalha! Traz a toalha!".
Ele não encontra. Pega qualquer uma do armário.
Eu só quero sair daquela posição, então aceito e a enxugo com a nova toalha. "Saindo daqui eu penduro a outra ou coloco para lavar".
Vamos agora para o round 2: colocar o pijama.
Mais 20 minutos e, ufa, Lais trocada, de cabelo penteado e meia para correr no chão gelado.
Ela pede para ver tv. Enquanto ligo a tv, ela pede a chupeta, enquanto busco a chupeta, ela pede o paninho de estimação. Em seguida, quer água...e então, me chama para sentar e brincar novamente. "Tudo bem, são quase 21h, logo ela tem que sossegar para dormir".
Aproveito o pouco tempo que resta do dia para ficar com ela. Janto, conversando.
Começo a avisar que logo vamos dormir.
Ofereço uma fruta e, em seguida, é o round 3: escovar os dentes. Pego a escova e, na volta, passo pela toalha - "ggrrrr!".
Mais 10 minutos, depois de mais protestos, e os dentes estão escovados. Apago as luzes para ela ir acalmando...são 22:30h!
Ficamos todos no sofá, ela deitada em mim. Sinto algo atrás da cabeça: a bendita toalha...
Agora não posso sair daqui, senão ela vai despertar e agitar novamente.
23h: ela capota. Papai leva para a cama.
Enfim, sós! Nossa meia hora para ver um seriado ou conversar antes de dormir.
Voltamos para o sofá. Empurro a toalha para o lado: "Ela pode esperar".
Considerações importantes sobre o texto:
1. Notem que, mesmo sem eu ter parado um segundo, em nenhum momento desse dia descrito, eu cozinhei, limpei, lavei (louça, roupa, etc) ou organizei a casa. Tudo isso tem de ser feito, seja por nós (meu marido e eu) ou seja por alguém da nossa rede de apoio. Portanto, para quem ainda não o faz, valorizem a maternidade e a paternidade. Somos super-heróis, de fato.
2. Percebam que falta a descrição detalhada do que acontece com a Lais durante minhas 8h de trabalho no notebook. Faço questão de destacar aqui o papai que entra em ação e a ajuda que temos de toda a rede de apoio, principalmente durante a quarentena. Sem eles, não sei como seria possível. Por isso, fica aqui meu imenso agradecimento!
3. Por fim, vejam que também não descrevi detalhadamente o que rola nos 20 minutos de cada Round, que são as batalhas que escolho enfrentar com a Lais. Muitas vezes são desgastantes, frustrantes e não se desenrolam da melhor maneira. Mas também não descrevo detalhadamente cada beijinho e abraço que ela me dá do nada e que valem como se fossem...momentos eternos e terapias grátis.
O que encontrei por ai?
Um desabafo real de uma mãe contado pelos olhos de outra:
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