Existem muitas frases que fizeram parte da educação que recebi e, até que a Lais se concretizasse em meus braços, eu ainda apoiava e tinha certeza de que seguiria o mesmo com meu filho. Acho que a frase campeã era "criança não tem que querer", seguida de "porque eu estou mandando!" quando eu perguntava por que eu deveria fazer ou falar tal coisa. Fora os chinelos voando, principalmente quando meu irmão e eu discutíamos...rs
Aos poucos eu desisti de falar o que eu pensava dentro da minha casa e em meio a minha família. Tinha receio de questionar, pois quando fazia, recebia de volta julgamentos ou ironias como se minha pergunta fosse algum tipo de insinuação ou afirmação ofensiva. Não me sentia ouvida e nem compreendida. Acabava não sendo um ambiente em que eu conseguia ser eu mesma, pois se fosse algo diferente do esperado, eu receberia duras críticas.
Aos poucos fui amadurecendo e buscando minha independência, mas lembro que sempre foi muito difícil lidar com essa falta de apoio e orientação quando eu simplesmente pensava diferente do que os meus pais achavam correto (ou lógico). Meu sonho era sair de casa o quanto antes, pois só assim eu não me sentiria obrigada a seguir regras sem explicação apenas pelo fato de eu morar debaixo do teto deles. Não me lembro de terem me dito isso, mas era como eu me sentia, era a mensagem que de alguma forma, eu recebia.
Eu sei que absolutamente tudo que meus pais fizeram por mim foi por amor e, as vezes, por medo de que algo de mau acontecesse comigo. Fui criada para ser forte. Quando decidi viajar para fora do país com minha economias, lembro da lista de coisas que (com certeza) sairiam errado que eles me apresentaram. Foi muito difícil seguir com a ideia, mas sou cabeça-dura (confesso!) e prometi a mim mesma que dessa vez eu iria até o fim. E fui! Afinal, "fui criada para ser forte".
E chegando lá, me arrependi. Muito! Queria voltar no mesmo dia para o Brasil. O que me segurou lá? Eu me recusava a admitir que eles estavam certos na primeira vez em que bati de frente e segui meu coração. Demorou uns 3 meses para eu me adaptar lá (e adorar, afinal de contas, foi a melhor experiência da vida!) e um ano para concluir que eles estavam errados - e eu também...
Não existia coisa alguma que com certeza daria errado. Existiam coisas que dariam errado e outras certo.
Não seria fácil ainda que eu tivesse todo o apoio do mundo. Exigiria muito esforço meu ficar longe deles, do meu país, e de tudo que eu conhecia, sozinha. Ouso dizer que se fosse fácil, não seria tão incrível.
Já que eu não poderia contar com 100% do apoio deles em nada que eles considerassem loucura, como a minha viagem (ou ir à casa de uma amiga dirigindo enquanto chove), eu precisaria aprender a arriscar sozinha e assumindo minhas próprias decisões. E assim, me libertei (em partes) aos meus 23 anos.
Uau!
23 anos depois!
Não gostaria que minha filha esperasse tanto...
Quero que ela sinta que a casa dela é o lugar mais seguro do mundo e onde ela sem dúvida pode ser ela mesma. Onde ela será acolhida, escutada e compreendida. Onde será orientada e educada segundo nossos valores, mas também onde terá espaço para se desenvolver e se descobrir com suas pernas e olhos, de acordo com o que ela é, vive e sonha. Afinal, ela não é a Marina nem o Leandro (mamãe e papai dela). Ela é a Lais.
Antes de finalizar, gostaria de dizer que entendo perfeitamente a educação que recebi dos meus pais. É graças a ela que me tornei quem sou hoje: uma pessoa comprometida, esforçada, de caráter e que coloca a família sempre em primeiro lugar. Virtudes das quais me orgulho muito e que com certeza farei de tudo para que a Lais também as siga. Sobre a forma que recebi essa educação: eram outros tempos, outros desafios, cada criança é uma criança assim como cada pai é único, suas vivências e experiências também. Meus pais fizeram o melhor que podiam, os amo e sou muito grata.
Agora estamos falando de 33 anos depois. Se apenas repetirmos o que nossos pais fizeram (e muitas coisas vou repetir, pois acredito que funcionaram lindamente), estaríamos abrindo mão de todo o conhecimento científico que surgiu até aqui. Por isso, sim, precisamos estudar para ser pai e mãe. Devemos utilizar sabiamente a internet que não existia tempos atrás, ser abertos à novas informações e metodologias comprovadas.
O meu desafio e trabalho interior hoje é: como educar e transmitir meus valores da forma mais leve possível para a Lais? Me tornei sim uma pessoa de bem e muito forte, mas a que custo? Houve equilíbrio? Conclusão: me tornei também uma pessoa muito autocrítica e que não lida muito bem com frustrações.
Educar afetivamente um filho não é ser permissiva. É buscar a autoridade através do respeito e não pelo medo ou autoritarismo. É revisitar a nossa criança interior e se lembrar dos pontos fortes e fracos da educação que recebemos. É aprender com os erros e acertos de nossos pais e tentar ser melhor sempre.
Educar é pra mim a tarefa mais desafiadora e incrível que já recebi até hoje. E também a tarefa que me torna uma pessoa melhor a cada dia, não apenas com a minha filha, mas como ser humano. Estou aprendendo a ser mãe, sendo.
O que encontrei por ai:
Palestrante: Isa Minatel
Tema: O mundo sob a perspectiva da criança
Data: Dezembro/2016
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