(Texto publicado originalmente em 8 de junho de 2020)
Nenhum pai ou mãe sente prazer em deixar o filho de castigo. Por isso, não acho que seja o caminho mais fácil a seguir, como muitos pensam. Também não acho que seja o único. Temos que ter sempre em mente nossa missão como pais: educar, auxiliar, amar e ensinar a convivência em sociedade. Criamos nossos filhos para o mundo, sim. Não apenas para o mundo em que gostaríamos de viver, mas também para o que existe.
Mario Sergio Cortella, filósofo que admiro muito, em seu livro Família: Urgências e Turbulências, comenta "uma geração que se forme de modo indisciplinado não terá um comportamento saudável no convívio com o outro". Concordo. Nossos filhos terão que lidar com pessoas cuja educação não conhecemos, com condições, histórias e reações diferentes. Precisam estar preparados e entender o significado da palavra "respeito". Penso na educação como um labirinto: você tem vários caminhos a seguir, alguns enganos vai cometer, mas o objetivo é único. Você só precisa de uma estratégia. E dependendo da situação, você adapta o plano de acordo. Esse jogo de cintura é o ponto chave na minha opinião.
É necessário adaptar o "castigo" a cada situação de forma que seja proporcional ao ocorrido e ao que se queira ensinar. Tudo que se faz na vida, tem relação direta ao resultado que você vai colher. E esse ensinamento não tem preço e nem técnica única. É necessário feeling e bom senso tendo sempre em mente os valores da família. No mesmo livro, Cortella comenta sobre o castigo da seguinte forma: "Outra cautela necessária é não hiperdimensionar um castigo. Ele tem de ser justo e, sobretudo, adequado à compreensão que a criança ou o jovem tenha do dano que causou. (...) Afinal de contas, qualquer pessoa adulta sabe que é passível de punições: a multa que contabiliza pontos na carteira de motorista, a advertência no ambiente de trabalho, a pena com determinado número de dias detenção no caso de algum delito. Todos temos responsabilização por aquilo que fazemos".
Se tiver amor e segurança sobre a importância de seu papel e influência em seu filho, conseguirá colocar em prática o que for necessário com autoridade, aquela que não fere mas ensina limites. Segundo Cortella, "Autoridade não é autoritarismo, cabe enfatizar. Autoritarismo é aquele modo de ação em que existe brutalidade e opressão. Mas educar alguém exige um nível de interdição, de disciplinamento, e que deixará o outro entristecido, sim. (...) Há uma série de atividades que não são exatamente prazerosas, mas são necessárias em determinadas circunstâncias". Eu mesma, detesto limpar a casa, odeio ter que evitar comer chocolates, fazer imposto de renda então, nem se fala. Não gosto de fazer lição de casa e nunca vou me acostumar a acordar cedo, mas faço isso todos os dias mesmo assim.
Aqui em casa, temos de tudo: a oferta de um abraço num dia ruim, o canto do pensamento quando é necessário se recompor, a ordem para arrumar aquilo que bagunçou antes de brincar com outra coisa, o "não" sem negociação quando se trata de proteção e limites.
Desejos não são e nunca serão direitos. "A ausência de fronteiras pode se transformar em algo absolutamente danoso, que é a incapacidade de contenção", comenta Cortella em seu livro. Como pais, precisamos estar atentos às atitudes e dia-a-dia de nossos filhos. Isso exige esforço, muita paciência e não é fácil. Contudo, em 1 ano e 11 meses da Lais, é incrível como já vejo o progresso e resultado da sementinha que plantamos todos os dias. Percebo que ela entende o que explicamos nos momentos de castigo. Com o tempo, nem mesmo precisamos repetir o mesmo discurso. Ela pega o que derruba e já começa a arrumar a bagunça que fez em seguida ou precisamos apenas pedir sem maiores ações. O sentimento de que ela evoluiu por algo que nós fomos responsáveis por ensinar é indescritível. No mínimo, orgulho.
Gostaria de finalizar com outra citação do livro que me traz certa paz: "O que pais e mães devem levar em consideração é que não é possível debater todas as coisas o tempo todo ou fazer reunião para tomar toda e qualquer decisão. Uma família não é uma instituição democrática, é uma instituição participativa. A organização democrática tem o pressuposto da igualdade de direitos e, portanto, também da igualdade de responsabilidades. Numa família, a responsabilidade dos adultos sobre aqueles que educam não é idêntica. Todos são iguais em termos de dignidade numa família, mas não tem as mesmas responsabilidades. (...) E se eu sou o pai, a mãe ou alguém que cuida, sou responsável e tenho autoridade".
Isso é dar o o melhor aos nossos filhos. Estamos apenas sendo responsáveis com o papel que assumimos. Afinal, eles são (assim como nós) seres humanos em construção.
O que achamos por aí?
Título: Como ensinar limites ao seu filho
Autor: Maria Clara Vieira e Vitória Batistoti
Data de Publicação: 23/01/2018
Título: Família: Urgências e Turbulências
Autor: Mario Sergio Cortella
Editora: Cortez
Data da primeira publicação: 23 de junho de 2017
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