O que está acontecendo? Que gritaria é essa ai fora? Milhares morrendo; antigos problemas explodindo embaixo do tapete; racismo; feminicidio; uma boiada para o licenciamento ambiental; conflitos políticos; lives; webinars; pressão no trabalho. Quanta coisa ao mesmo tempo!!
E parece que se tornou mais uma obrigação ter que opinar sobre tudo, se posicionar, defender veemente uma escolha. Como é possível se pensar em grupos opostos protestando no mesmo dia? Que tipo de relação humana estamos construindo?
É claro que percebemos que a pandemia está nos trazendo ensinamentos. Porém, ao mesmo tempo, penso que não adianta tanto refletirmos se a energia que estamos distribuindo em nossos discursos seja uma energia de guerra. E para onde vai toda essa energia? Para dentro de nossas próprias casas.
Então, estamos no momento de refletir, cuidar das nossas famílias e levando tensão para dentro de casa? Ou seja, estamos trazendo cada vez mais angústia, e ódio, em um momento que deveríamos trabalhar a calma, paciência e amor, o que já não é simples. A conta não fecha desse jeito.
Talvez, seja a hora de simplesmente calarmos. A hora de não opinarmos, de nos calarmos um pouco e olharmos para dentro de nós mesmos. E essa é uma proposta e nada mais. Assim como quem propõe uma opção de caminho que não tenha que ser seguida obrigatoriamente por ninguém. É apenas uma opção. E não quer dizer que seja a mais correta.
Eu escolhi esse caminho. Desliguei a tv. Pausei meus projetos. Me recolhi a minha família, à maternidade e a meu porto-seguro. Me calei. E me reservei ao direito de não opinar. E o melhor, com a paz mental que essa escolha me permite, como lembrado por Rivas no texto “O alívio (e a paz mental) de não ter de opinar sobre tudo”. Até porque este silêncio não é o de uma mãe que cala por obrigação, mas de uma mãe que escolhe silenciar por sentir, humanamente, que esta seja a hora de pacificação interna.
Permito que o silêncio favoreça a essa transformação que o Covid19 pede. Permito que esse silêncio deixe a maternidade ecoar, lembrando-me que não sou mais apenas a filha, mas a mãe que precisa educar da melhor forma possível. Permito que esse silêncio possibilite o olhar para mim mesma, apresentando novos caminhos e resgatando formas de ver antigas escolhas.
E essa escolha não será para sempre. É a escolha que ficou até agora, e pelas últimas 3 semanas. Amanhã, ainda não sei. O silêncio ainda está aqui, re-significando nossa relação de mãe e filha, e nos mostrando o que isso representa em nossas vidas. O plano hoje é permitir, sem cobrar, sem opinar, mas me manter no caminho.
(Texto originalmente publicado em 14 de junho de 2020)
O que encontrei por ai?
Título: O alívio (e a paz mental) de não ter de opinar sobre tudo.
Autor: Silvia Lopéz Rivas
Data de Publicação: 31/05/2020
Título: É no silêncio que a maternidade ecoa.
Autor: Thaís Vilarinho
Data de Publicação: 26/05/2017
Título: O silêncio que se espera das mães.
Autor: Carol Patrocinio
Data de Publicação: 13/05/2017
Comments