Eu e minha filha moramos em São Paulo, com o pai dela. E ai chegou a pandemia.
Fomos passar um tempo em Salvador, com minha mãe, minha irmã e meu pai. Tenho certeza que nessa hora, você pensou: ai que delícia!
Sim, é uma delícia. Amo Salvador, minha terra, e estar em família ajuda muito no cuidado de uma criança pequena. Esta foi uma viagem que, além de me fazer pensar muito em minha vida (eu passei a ter tempo para pensar), me permitiu ver como a paternidade influencia na vida de uma criança que tem pai.
Bom, os cuidados da quarentena exigiram que ficássemos isoladas em uma casa por 15 dias. De repente, éramos, literalmente, só eu e ela. não podíamos sair, nem ver ninguém. No primeiro dia, minha filha só chorava a noite. Chorou muito chamando o pai. Assim foi pelos próximos 4 dias. Foi diminuindo a intensidade, mas sempre tinha o choro. Com o tempo, ela foi aceitando que aquela era uma nova rotina, e que iria ter fim também.
Depois, então, ela passou a não querer falar com o pai nem por chamada de vídeo. Ela se sentiu abandonada e expressou a raiva dela por desprezo. Por fim, após 2 meses, ela voltou a chama-lo muito frequentemente, ainda que tivesse a presença da avó e da tia. Ela acalmou quando eu expliquei que em 6 noites, ele chegaria para visita-la. E sabe o que aconteceu na véspera? Ela não dormiu. Tentava dormir e logo acordava chorando.
Eu já havia percebido o amor que minha filha tem pelo pai, ao espera-lo chegar do trabalho, no dia a dia mesmo. No entanto, foi nessa viagem que vi como o laço é forte. Enxerguei minha filha e as emoções dela em diferentes formas. E entendi mais ainda o quanto a paternidade é importante na criação de um filho.
Pensando nisso, tive a oportunidade de entrevistar um pai. Alexandre Beraldo (Xande), artista, designer, ilustrador e pai do Caetano nos passa um pouco de sua visão de pai. Deixo vocês com essa breve leitura, de muita riqueza. Gratidão por nos dar seu olhar, Xande:
MM - Quem é o pai Xande?
Alexandre Beraldo, Xande
MM - Como você vê o papel do pai na criação dos filhos?
Acho que primordialmente prover amor e cuidado.
MM - Você lembra como era cuidar de seu filho ainda bebê?
Lembro sim. Participei ativamente desde que ele era recém nascido até uns 2 meses e depois, aos 5 meses, ele já ficava comigo uma semana inteira.
MM - Há um movimento chamado paternidade ativa que reformula o papel do pai, transformando a visão do pai provedor em pai que cuida dos filhos. Pai ativo ou pai? Porque?
Acho que Pai ativo é um nome bom para relembrar aos Pais de que prover carinho, amor e cuidado é o mais importante.
MM - Qual o grande desafio de ser pai?
Lidar com as responsabilidades da vida adulta ao mesmo tempo em que cuida do filho.
MM - Por que ser ou porque não ser pai? Onde está a dificuldade?
Acho que ser pai é uma mudança super positiva (pelo menos na minha vida). A responsabilidade pesa, mas ela vem recheada de bons momentos.
MM - Como superar os desafios para ser um pai?
Não sei. Cada desafio é uma situação nova.
MM - Você se considera pai solo?
Não me considero Pai solo, pois além da mãe ser super participativa, tenho uma rede de apoio que me ajuda muito (avós, tios, namorada).
MM - Vivemos em uma sociedade machista. Como é para um pai ensinar ao filho (a) a não ser machista?
Ensinar o respeito mútuo, independente de gênero, etnia e qualquer outro fator segregador pode ser uma saída.
MM - O que vc falaria para uma mãe que quer ter um pai pro seu filho?
Exiga participação ativa do pai. A responsabilidade é dividida ao meio, sempre!
MM - Você quer deixar mais algum recado, uma mensagem ou um desenho?
Um desenho de um artista chamado ALMA.
O Xande Beraldo é artista, designer, ilustrador e faz produtos muito legais que podem ser encontrados em: https://www.colab55.com/@alexandreberaldo
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