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(hoje, sinto uma paz em falar dele!)
Era outubro de 2017 quando descobri que estava grávida, meu primeiro filho. Estávamos em viagem, Pedro e eu, e fizemos uma chamada de vídeo para contar a novidade para minha mãe: era algo que queríamos muito! Mas, sabe, eu não sei dizer se estávamos realmente felizes. Para mim, saber que Pedro e eu estaríamos ligados para o resto de nossas vidas me dava um medo pavoroso. Talvez porque nosso casamento não estava em uma das melhores fases ou ainda porque se saber mãe dá uma responsabilidade tão grande que, inicialmente, parece que é um bicho de sete cabeças. Não sei explicar bem o porquê, mas eu sei que os sentimentos eram muito confusos sobre a gestação.
Acontece, que quando estávamos na oitava semana de gestação, tivemos uma briga. Uma briga feia. E pensamos em nos separar. Na semana seguinte, no dia do primeiro ultrassom – ainda sem nos falarmos – a médica nos disse: “o coraçãozinho não está mais batendo” (tempo) ..................................................................................................................................................................................................................(tempo)........................................................................................................................................................................................................(tempo).......................
Chorei um choro de mãe culpada, apesar de não ter esta consciência lá naquele dia. Pedro e eu nos abraçamos demoradamente, enquanto a médica nos deixava a sós. Nos olhamos com os olhos molhados e Pedro, com a mão em minha barriga, murmurou “você não veio, mas seu irmãozinho virá, tá bom?”.
Depois deste dia foram dezessete dias de espera até que meu corpo expelisse, sozinho, o feto. E ele o fez na manhã do dia oito de dezembro de 2017. Morávamos em nossa casinha no mato, em Nazaré e foi ali que tive a experiência mais próxima da morte até hoje. Durante as contrações eu repetia internamente “obrigada, meu filho, pode ir”. E ele foi.
Depois que vivi este aborto, passei meses (36 meses, especificamente) com um imbróglio aqui dentro. Um misto de dor, de culpa, de medo. Até que há menos de quinze dias, procurei a Fernanda – uma pessoa que trabalha com constelação familiar – para que eu voltasse a olhar para ser com o sentimento correto. E assim foi.
(Eu não vou aqui falar sobre do se trata a constelação familiar, pois não saberia dizer com as palavras certas, mas o que posso dizer é que neste processo é possível que a gente enxergue para além do que é visto e como resultado, há a chance de curar o que dói).
Duas horas depois que começamos a conversa, depois de muito choro, palavras como “morte, perda, fracasso, insuficiência, dor, culpa” surgiram com frequência para traduzir a experiência do aborto e Fernanda, com a força de um olhar fixo, me perguntou “a que serviço esse ser veio?”, ou seja, “você consegue se lembrar o que mudou depois que ele passou?”. Achei que não era muita coisa, mas fui recapitulando.
Pedro e eu decidimos nos unir; decidimos que queríamos ser pai e mãe; mudamos para um lugar com mais sol; e, claro, ganhamos o Chico. Nos formamos como uma família que sonhamos um dia. Não sei se isso teria acontecido sem que tivéssemos passado por esta dor primeiro. Não sei. Não dá para saber. O que eu sei, é a revelação do serviço deste ser que passou. Sim, que passou. Como disse Fernanda, “esse ser que apareceu e desapareceu”. E neste momento, como uma virada de chave, passei a agradecê-lo (e é o que faço agora). Uma gratidão tão grande me invadiu por meio do entendimento de que com a passagem dele ou dela pelas nove semanas das nossas vidas nos convidou a uma reconfiguração completa. E cá estamos, ainda reconfigurando. Com uma diferença imprescindível: este serzinho faz parte de mim, não como uma dor doida como era antes, mas como um aconchego de quem passou para me abraçar depois de tempos sem me encontrar.
Encerradas as duas horas de conversa com Fê, me levantei e fui à gaveta da escrivaninha para procurar um objeto que me remetesse a este ser. Encontrei um anel enfeitado com um ursinho cor-de-rosa que Pedro me deu em comemoração à primeira gestação. Peguei o anel. O beijei muitas vezes. Chorei e agradeci. Me levantei, fui até o jardim, escolhi a flor mais florida e o enterrei. O devolvi para o divino, pela terra, como rege minha crença.
Voltei para casa e abracei Francisco carinhosamente e falei para ele: “Chico, você é meu caçula. Você sabe, né? E ele respondeu “É”. Entendi com os olhos. Somos uma família de quatro e um deles é o vento que nos toca de vez em quando. Assim seja. Assim é.
Que post lindo. É importante mesmo entender o motivo de passar por algumas situações e ser gratos pelo que ela trouxe de bom, ou de aprendizado. Deve ser traumatizante passar por uma experiência assim, mas como você mesmo disse, temos que aprender a olhar de outra forma e agradecer
Bjs
Carol Justo | <a href="https://justoeublog.blogspot.com/">Justo Eu?!</a>