![](https://static.wixstatic.com/media/a27d24_38a03b8375a04521b08eb490060b4c41~mv2.jpg/v1/fill/w_958,h_1051,al_c,q_85,enc_auto/a27d24_38a03b8375a04521b08eb490060b4c41~mv2.jpg)
Veja se não é um esforço verdadeiro e forte viver o amor no Brasil, neste setembro de dois mil e vinte. Sinto um ímpeto de afogamento a cada acontecimento derrubado no meu dia. Seja crise sanitária, política, econômica, humanitária, neste momento não me instiga muita diferença. A cada vez que vejo a palavra presidente, engulo seco. Mas não é só isso.
Talvez, nunca tenha vivido dor e amor em proporções tão similares, se é que dá para medir uma coisa dessas. O que sei, é que há dias que me lembro do dia em que vivi um aborto espontâneo, no banheiro da casa em que morava, em Nazaré. Foi, sem sombra de dúvida, o mais próximo que cheguei da morte. Chorei (e ainda choro, por vezes) a saudade de quem nunca vou abraçar. Não sei se as pessoas entendem esse sentimento, mas posso jurar que ele é no umbigo, como diria minha terapeuta amada Silvia Bahia.
Mas vim aqui falar do amor.
Há quem diga que meus textos são uma fuga ou uma “maneira de me expressar”. Quem sabe alguns, sim, embora já não me veja sem a oportunidade de escrever. É curioso como me debruçar em palavras para ser alguém na vida, como meu pai sempre me desejou (hoje entendo, de coração), me resgatou e me levou, como quem leva uma folha de outono despretensiosa e inegavelmente. Será que isso pode? Despretensão e imposição juntos?
Claro! Em um dos rolês que demos no final-de-semana - Francisco, eu e Pedro - enquanto Chico dormia com o vento na cara que ele adora, Pedro cantava alguma música do Leonard Cohen e eu ia na janela, olhando as vacas e pensando em palavras aleatórias. “Paradoxal” me veio inúmeras vezes. Acho que foi Pedro que me disse algo e me dei conta: “porque ainda insisto em excluir uma coisa em detrimento da outra?” Por que não os dois?
Mas vim aqui falar do amor.
Não preciso dizer que estar com uma criança de um ano e nove meses completados neste mês, oito de setembro de dois mil e vinte, é um convite insistente para a vida que nem sonhamos ser possível. Cá entre nós, se o novo (o realmente novo) é algo que rompe e continua como o faz o nascimento de uma pessoa, como conseguiríamos prever este rumo ou aquele? Gregorio Duvivier, semanas atrás, nos disse isso. O tapete vira praia e só a deusa sabe o que pode vir daí. Tudo é possível.
Francisco, nestes últimos duzentos e dez dias foi de chorar sentado no chão, inconsolável, à falar em alto e bom som “adulte” (com dedo apontado para mim) e “nenê” (com o dedo apontado para ele). Quase todas as manhãs ele dorme no sofá, com aquele solzinho no pé e um som brasileiro para enraizar nosso contexto. Quando olho para ele, me sinto presenteada. Presente. Eu poderia, inclusive, ficar horas falando tudo que admiro nele, mas vocês não aguentariam. Sou daquelas mães que baba a cria toda!
Mas vim falar de amor.
No sábado, pintei minhas pálpebras de sombra rosa. Um dia, em um dos meus hábitos que menos gosto – comprar coisas por impulso – levei para casa um belo estojo de maquiagem com cores fortes e vivas. Então, como me propus a manter minha autoestima lá em cima, passei a sombra no domingo. Pedro, quando me viu chegando na cozinha, deu um sorriso e disse que parecia alguém vindo de uma noitada. Fiquei puta da vida. Tirei uma foto e mandei para uma super amiga, a Chará e ela, bem delicada que é, mandou: “Não entendi direito, mas parece que você chorou a noite inteira”. Rimos de gargalhar. E ainda ganhei dicas de como usar estas coisas hipsters.
Se tem uma coisa que admiro no Pedro, é seu paladar. Hoje cozinhei feijão pela décima vez na vida inteira. Como não tinha alho nem louro (gosto de feijão com alho e louro e mais nada), misturei o que tinha: masala, um tempero que minha mãe fez com manjericão (no íntimo, eu sabia que não ia combinar bem). Quando perguntei, ele falou esfregando os dedos e lambendo os lábios, como quem procura a palavra-taste: “alguma erva não combinou bem”. Bingo.
O amor tem acontecido. Despretensioso e inegavelmente, como a folha carregada pelo inverno. E agora, vou para a live da Teresa Cristina. Vocês já viram o que é essa mulher preta sambista brasileira? Depois que vi pela primeira vez (no aniversário do Antonio Pitanga), dou uma volta no sono e a espero quase todas as noites. Hora ou outra, Chico resmunga e me pede para ir para cama. Hoje, o embalei e voltei para minha live-night.
Comments