"Sabe aquele desafio que você sabe a vida inteira que vai chegar sua vez? Pois é, o parto foi o meu desafio de vida."
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Por Lívia Macêdo
Um parto normal...
Sabe aquele desafio que você sabe a vida inteira que vai chegar sua vez? Pois é, o parto foi o meu desafio de vida.
Sou a primeira de 3 irmãs (mas minha mãe engravidou 4 vezes, sendo uma antes de mim). Aqui já começa o meu primeiro medo, perder o neném. Eu nasci em casa, por parto normal, em quase uma cena de filme, todos os sete tios espiando pelo buraquinho da fechadura e minha avó aos berros “essa menina vai morrer!!”. Aqui já começam as expectativas do meu desafio. Eu perdi a conta de quantas vezes eu ouvi a história da cena épica do meu nascimento. Minhas duas irmãs, apesar de não serem fruto de uma cena de filme como eu, também nasceram de parto normal, na piscina da clínica especializada em partos na água, o que para época, era incrível, inusitado, super raro, e super corajoso. Pois bem, assim se desenha o meu desafio: a primogênita vai ser também a primeira da família a ter filho, será que vai ser igual ao da mãe? Vai ser na água? Ah se a mãe fez naquela época, ela faz também!
Pois é, em meio a muitas expectativas, eu fui criada para ter meu parto normal. E assim eu quis que fosse. Eu não queria decepcionar a família, mas também tinha dentro de mim aquela vontade de querer passar por isso. Mas e o medo de perder meu neném? E a dor? E o medo do “rasgo”? E a reação de meu marido ao assistir? Sim, teve tudo isso.
Bom, como eu queria muito o parto normal, busquei um especialista. Apesar de eu ter plano de saúde, o plano reembolsou apenas 60% do valor, e, infelizmente, descobri que isso é muito frequente. O médico que eu encontrei também era especialista em parto na água, o que condizia com meu desejo. Então, fechou, achei meu médico. E isso foi um dos principais motivos para o resultado do meu parto: escolher o médico com as especialidades que eu queria, para me acompanhar durante toda a gravidez, e criar o entrosamento necessário.
Planejamos tudo! Com 37 semanas, a doula (uma parteira companheira) iria me visitar, e quando chegasse o dia, a enfermeira iria até minha casa e me acompanharia desde lá. Só esquecemos de avisar a Maria para ela esperar um pouco...
Com 36 semanas, meu esposo fez uma cirurgia para retirar um cisto. Era 17/04. Após a cirurgia, eu fui pra casa descansar e ele ficou no hospital acompanhado do pai. Acordei no meio da noite com a cama toda molhada. Fiz xixi? Não tem cheiro de xixi! Pela manhã, liguei pro meu médico e fui visita-lo. Fizemos exames e a bolsa estava, aparentemente, normal. No dia seguinte, meu marido recebeu alta e fui pega-lo no hospital. Naquele dia senti um pouco de cólica, mas bem de leve. Volta e meia saia água de mim. Avisei ao médico, mas nada mudou...A noite, percebi um leve sangramento. OPA! Sinal vermelho! Os pais do meu marido já haviam voltado pro interior e ele estava em pós-cirúrgico. Peguei o carro e dirigi até o hospital, com cólica, água vazando e pernas tremendo. A esta altura, minha mãe já havia comprado passagem e chegaria no dia 20/04 (dia seguinte) para me dar suporte. Ainda no hospital, fiz exames, ultrassonografia, batimentos e ...tudo normal. Havia apenas uma dilatação de 1 cm. Lá vou eu dirigir de volta para casa.
Dia 20/04 acordei bem. Minha mãe chegou ao meio dia, mais ou menos. Eu sentia um pouco de cólica, mas depois passava. Estavam mais fortes, mas como tanto o médico como os exames do hospital não apontaram bolsa estourada, fiquei mais tranquila. Dia 21/04 acordei bem até. Fomos almoçar em um restaurante. Tudo tranquilo. No final do dia, a cólica voltou. E foi ficando forte, e aumentando. Meu médico falou: baixe um aplicativo de contração. E então percebemos que havia um ritmo. Meu marido ainda estava em recuperação, após apenas 4 dias de cirurgia. Ele não tinha condições de me ajudar. Pedi a minha mãe: não durma, fique comigo. As contrações foram aumentando força e vinham cada vez em menos tempo. Meu médico estava em outro parto antecipado, mas já sabia que teria que me acompanhar. 1:00 (dia 22/04) da manhã eu avisei ao meu marido: vou tomar banho e se prepare que você terá que dirigir até o hospital: sua filha está nascendo.
Se a bolsa ainda não havia estourado (não me perguntem o que era aquela água que tanto saia), ela estourou nesse momento. Saiu muita água na hora do banho. A partir daqui, é preciso entender que o parto é o momento da vida que deixa o ser humano o mais próximo da sua realidade animal. Sendo assim, escolha bem quem vai te acompanhar na sala de parto.
No caminho era tanta dor, que vomitei. Meu marido dirigia o mais rápido que podia. Chegamos ao hospital 2:15 da manhã. No hospital, meu médico foi avisado da minha entrada. Aqui, uma coisa importante: escolha o hospital que seu médico tem familiaridade. Na hora em que eu avisei que meu médico faria meu parto, as enfermeiras praticamente me deram as costas e me deixaram no quarto, sozinha, e me falaram: “olha, precisando é só chamar”! Fala sério né...
Meu médico chegou acho que mais ou menos 3 da manhã. Eu não tinha doula por que estava de 36 semanas ainda. E por ser 36 semanas, o hospital não permitiu usarmos a banheira. Meu marido estava paralisado pela situação, em recuperação cirúrgica e sem saber o que fazer. Mas como ele é o pai, eu fiz questão que ele participasse até o final. Sim, ele entrou na sala de parto. E minha mãe também! Apenas uma pessoa pode acompanhar o parto, mas como eu não tinha doula, a diretora do hospital permitiu o acompanhamento de duas pessoas de modo excepcional, mas confesso que muito humanizado. Foi a salvação. A melhor doula do mundo é minha mãe :) Maria nasceu às 5:51 da manhã, ao som de Nossa Senhora, cantada por Roberto Carlos, que meu médico espontaneamente colocou.
Acima de tudo, a vontade interna para que o parto normal acontecesse foi o que me fez conseguir. Por isso, acredito que não adianta a mãe se forçar a um parto normal se ela não se sente preparada ou ao menos disposta a se preparar para isso. A escolha do médico e a presença da minha mãe me apoiando foram fundamentais para que eu conseguisse vencer meu desafio. A enfermeira da equipe médica dele também foi incrível, paciente e me dava dicas e instruções que facilitaram o nascimento. Apesar de tudo isso, durante as emoções e medos do parto, eu pedi cesárea, mas o entrosamento com a equipe médica demonstrou que aquele pedido não era verdadeiro. Quanto a anestesia, eu nem lembrei que era possível pedir...
A dor da cólica é infinitamente maior que a dor do parto. Vale ressaltar que eu não tive rasgos nem precisei tomar nenhum ponto. Maria era pequenina e aos pouquinhos foi conseguindo o espaço que ela precisava para passar. Sempre digo: minha filha me ensinou a ser mãe!
Depois do parto em si, tem o parto da bolsa rs Esse não passa de um susto e não precisa de esforços. Com um pouco de massagem na barriga, ela sai. E é incrível aquela a força daquela membrana. Achei muito legal ver onde minha menina ficou guardadinha :)
Meu marido ficou em estado de choque por mais uma semana e disse que não assiste ao próximo parto, caso aconteça (ah vá...).
Por Marina Oliveira
Meu Relato de Parto
Apesar de ter nascido de parto normal e minha mãe sempre ter defendido a ideia, eu tinha tanta agonia de pensar nisso, que quando alguém me contava ou lia algo sobre o assunto, eu já passava mal. Sempre jurei que quando tivesse um filho, faria cesárea.
Quando fiquei grávida, a história foi outra. Coloquei na cabeça que não queria interferência sobre quando e como minha filha teria que vir ao mundo. Não queria definir essa data, nem o signo, nem a hora dela chegar em nossas vidas. Assim como acontece quando engravidamos, não sabemos quando vai ser e nem se será menino ou menina (aliás não soubemos até a hora do nascimento) e nem como vai evoluir a gravidez, eu também parei de ver motivo em definir a tal data do nascimento.
Então, resolvi que esperaria meu bebê decidir a hora de nascer e comecei a me preparar para aceitar a ideia de que, talvez, eu tivesse um parto normal. Percebi que com o tempo passei a ver tudo isso como algo muito natural e sem pânico (a natureza é muito sábia em nos dar 9 meses para nos preparar a todas as novidades que esse processo traz).
Lá estava eu com 39 semanas e 4 dias quando às 2h da madrugada percebi que perdi o tampão. Pensei "será hoje!", e voltei a dormir (repito: meses atrás eu estaria em pânico com essa ideia).
Acordei por volta de 8h e nada de novidade a não ser algum corrimento. Esperei até a hora do almoço, quando o corrimento começou a incomodar mais pela aumento da frequência e consistência mais líquida, e liguei para meu médico.
Como no dia seguinte eu faria exames para checar tudo, ele pediu para que adiantasse para aquela tarde. Liguei para meu marido, que estava trabalhando, pedi para que voltasse para casa, e a partir dai me acompanhou todo o tempo. Depois de muita burocracia, fomos ao laboratório e constataram que minha bolsa tinha rompido e que eu já estava com o líquido amniótico abaixo do normal. Nesse momento, realmente já não era apenas um corrimento e o absorvente já não era suficiente.
Com os exames em mãos fomos ao meu médico. Já eram 17:30h e nem sinal das tais dores do parto. O médico checou que havia só 1 cm de dilatação, e como eu não sentia contrações e o líquido amniótico estava reduzido, o parto normal começava a se tornar mais difícil de acontecer.
Sugeriu aguardar até meia-noite e se nada mudasse partiríamos para a cesárea... e foi o que aconteceu. No caminho do hospital, troquei de calça 3 vezes, não entendia de onde saia tanta água. Liguei para as avós e avisei que o bebê nasceria à meia-noite. A emoção ficou por conta da expectativa de finalmente saber se seria Lais ou Henrique. Todos foram fazer plantão no hospital para enviar notícias em tempo real para o grupo de whatsapp da família rs. Acho que rolou até bolão! Foi assim que a Lais veio para esse mundão, do jeito dela, me contrariando :) mas como era para ser e muito saudável tirou seus primeiros 10 já na sala de parto!
Claro que hoje vejo dessa forma, mas naquele momento eu me senti bastante frustrada por não ter tido o tipo de parto que eu estava esperando.
Concentrei tanto minha energia em me preparar para o parto normal que não pensei em me preparar para uma possível cesárea.
Senti muita dor na recuperação e me incomodava de não poder rir, espirrar, agachar, levantar, etc. Meu único arrependimento foi ter deixado de aproveitar as primeiras horas da minha filha por estar focada no fato de ter passado por essa cirurgia e dos incômodos que o corte me trouxe (corte que hoje, apesar de muito discreto, me traz serenas lembranças sempre que o vejo). Se eu pudesse voltar no tempo, teria feito tudo exatamente igual, mas teria curtido cada segundo da cesárea, já que essa foi a melhor opção para mim e para minha filha, a ponto de tirar uma fotinho de nós três nesse momento único que, hoje, está apenas em nossas memórias S2.
Por Marcela Elisa
Parto: cada uma tem o seu!
Eu sempre imaginei que quando ficasse grávida, teria um parto normal. Para mim, ser mãe e viver um parto vaginal era intrinsecamente conectado. Não tinha como ser diferente. Ledo engano!
Sabemos que o número de cesáreas desnecessárias só cresce pelo mundo afora e no Brasil a situação é bem pior!! De todos os partos que acontecem na rede de hospitais privados, 80% são partos cesarianos, destes, sabe-se lá quantos foram desnecessários. É claro que eu sei que uma cesariana necessária salva vidas, mas o que fico pensando é: “será que estes 80% de mulheres realmente tinham alguma complicação física para ter uma cesárea?” Eu acredito que não. O que vejo, na verdade, é uma classe médica despreparada para fazer um parto normal e uma legião de mulheres sendo levadas por essa mesma classe médica. Sem contar, que o parto normal se tornou, terrivelmente, temido; como se fosse algo fora do alcance de reles mortais.
E, sabe, às vezes é isso mesmo.
Eu me preparei as 40 semanas da gestação para um parto natural. Em casa. E não aconteceu. Depois de 72 horas de trabalho de parto, em condições perfeitas de saúde (minha e do Francisco), fui levada para uma maternidade que também fazia partos humanizados. Lá, depois de receber alguma ocitocina na veia, as contrações ficaram alucinantes! E aí foi que eu desconstruí minha audácia em considerar o parto normal tão normal. Eu implorava por uma cesárea e sei que estava sobre efeito da partolândia (o momento em que a parturiente fica tomada de selvageria e emoções fortes). No entanto, em pequenos momentos eu recobrava a consciência e continuava a pedir uma cesárea. Eu não queria mais tentar o parto normal. Eu não queria mais parir...eu queria meu filho, não importava mais a maneira que ele viesse ao mundo. Eu só queria que ele viesse.
Depois de passada toda loucura que foi parir, comecei a refletir que há muitos partos disponíveis e eles vão muito além do binário: cesárea ou normal.
Não é só sobre por qual canal sai o bebê, se pela barriga ou pela vagina. É sobre o envolvimento da mãe, da equipe, do companheiro ou companheira; é sobre as condições físicas; sobre o ambiente que envolve este acontecimento; sobre crenças, fé, informação.
Em outras palavras, precisamos pulverizar estes modelos de partos para que mulher possa se sentir não em um beco sem saída em suas escolhas e, sim, de frente para diversos caminhos possíveis.
O que achamos por aí?
A partir dos nossos relatos, percebemos que há muito o que se descobrir sobre os partos. Escolhemos duas reportagens: uma da Revista Crescer e uma do portal Cordvida para dividirmos com vocês. Trouxemos ainda o vídeo "Por onde saem os bebês?", um curta, produzido pelo projeto Universidade das Crianças, de 3 minutinhos que explica de forma lúdica, o parto.
Revista Crescer
Publicado em 30/07/2019, atualizado em 06/08/2019
Autor: Juliana Malacarne
Título: Tipos de parto: Conheça 9 e escolha o melhor para você
Portal Cordvida
Publicado em 09/04/2019
Autor: Dra. Juliana Torres Alzuguir Snel Corrêa
Título: Tipos de parto: qual é o ideal para mim e meu bebê?
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