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[Diário de quarentena] Você se lembra de quem era antes da pandemia?

Foto do escritor: Mestrado MaternidadeMestrado Maternidade

Por Marcela Elisa


Acordo sem muito saber o que tenho pela frente e, apesar disso, o relógio continua a despertar às sete da manhã, como seu tivesse o dia contado em horas. Na verdade, o único compromisso certeiro é cuidar do Chico: dar mamar, dar almoço, brincar, trocar fralda e fazer dormir. Não que isso seja desgostoso. Aliás, é um imenso prazer, embora até dois meses atrás a minha rotina estivesse sendo bastante diferente.


Você já pariu um filho? Se sim, saberá do que falo como se fosse com você mesma. Se não pariu, vou me esforçar para me aproximar ao máximo do sentimento que é reencontrar sua vida profissional (que tanto ama) depois da maternidade. É claro que falo do alto de um privilégio de ter podido ficar com meu Francisco sem a preocupação e o dever de voltar a trabalhar – como as mães que cumprem a licença-maternidade, por exemplo – pois sou autônoma. Sendo assim, a volta ao trabalho foi tão lentamente que a pandemia chegou no exato momento em que eu havia, pela primeira vez, recuperado uma renda mensal como retribuição do trabalho entregue.

Arquivo pessoal

Em duas semanas – eu disse, DUAS semanas – perdi os clientes, os acordos, as propostas e o dinheiro que demorei 18 meses para construir. Logo agora! Um dia, comemorava e comprava um vinho com meus próprios trinta e oito reais e no outro, fazia uma projeção catastrófica para daqui três meses, se nada mudar. Foi esse tombo que levei. E fiquei tão desnorteada que já passaram quase sessenta dias e só agora é que estou conseguindo sentar em minha mesa de trabalho e me dedicar a pensar em como vou superar este obstáculo.


No caderno de anotações, ainda estão escritos em cores diferentes as estratégias de comunicação que havia desenhado para alguns clientes. O e-mail recém-criado com o “sobrenome” da empresa que eu prestaria um serviço temporário e a última mensagem no Whatsapp, vinda de minha amiga e parceria em produção de eventos, me confirmando para as edições de abril e outubro como uma das produtoras de sua equipe. Apesar de ainda fresco na memória, faz dias que não olho estas recordações de tempos tão longínquos. Impressionante como a velocidade do tempo mudou de lá para cá, parecendo que vivemos cinco anos em cinco dias.


E a rotina? Nem te conto! Ou melhor, conto. Francisco ficava com a Verena todas as manhãs, então, era sagrado: Vevê chega em casa com um sorriso, Francisco se joga no colo dela, eles vão para a casa dos meus pais e descem, buzinando o carro por volta do meio-dia. Neste meio-tempo, Pedro trabalhava de casa e eu havia começado a ir para o coworking da Talita, pelo menos três vezes na semana. Como eu estava feliz! Saía com minha motinho amarela (que sonhei em ter por quase catorze anos e havia comprado fazia trinta dias, minha mochila, tomava um café por lá, molhava as plantas e trabalhava no computador. Lembro de, inclusive, vislumbrar um futuro breve: “Vou alugar a sala que está vaga aqui no prédio, vou mandar fazer uma testeira em que escreverei ‘Maré Cultural – incubadora de projetos’, para pendurar do lado de fora da janela.” Tudo planejado.


Hoje, além de não sair de casa há tempos (como muitas pessoas), não sei mais o que são planos. Perdi a capacidade de enxergar os próximos passos. A suspensão da vida-comum que fomos submetidos me pegou de cheio, principalmente pela minha inaptidão em lidar com o intervalo entre a inspiração e a expiração, essa fração de segundos que designa o momento presente. Chego a pensar que se não fosse minha vontade de viver e a esperança implícita nos olhos grandes do Chico, nem sei. Talvez estivesse ainda mais difícil para mim.

Digamos que eu esteja me levantando do nocaute agora. Meio tonta, um pouco machucada e decidida em treinar para a próxima luta. Mas agora preciso correr porque Francisco acordou da soneca da tarde e está me chamando com lágrimas nos olhos pedindo seu conforto chamado “teta” (risos).


 

Ciclos da vida


Por Lívia Macêdo



Em 1994, assisti a um dos filmes mais marcantes de minha vida: O Rei Leão. Eu tinha 12 anos. Como esquecer desse dia? Fomos eu, minha mãe, meu pai, minhas irmãs, minhas primas Clara, Bia e meu primo Leandro (irmãos), e seus pais Nena e Zé. O cinema era caro pra gente. Então fomos a um cinema de rua mesmo. A pipoca tb era cara para 2 famílias de 3 crianças cada, ou seja, éramos 5 por família. Então, meus tios levaram pipoca na mochila. Ah como eu lembro desse dia!


O filme foi incrível! Como não amar Rei Leão?! O tema principal: o equilíbrio da vida na selva! Todos aqueles animais, aquela floresta, a vida em ciclos, que se permeiam pela eternidade. Cada um com seu papel fundamental na selva.


Um golpe de família, muda o ciclo de liderança. O desequilíbrio espalha terror pela população de animais. Para uns, a vida está melhor com as mudanças. Para outros, o fim de tudo parece está próximo. Mudanças nos ciclos.


E de repente, algo muda tudo outra vez. Muda-se a liderança. Novas regras são estabelecidas. A vida passa a funcionar em um novo ciclo da mesma vida. Estou falando do filme.


Quantas vezes não nos pegamos em um novo ciclo? Uma demissão inesperada; uma acusação injusta; um rompimento abrupto; uma despedida desta vida; uma nova vida que chega; um vírus. E com o vírus, novos ciclos.


Neste momento, as mudanças são muitas. Temos escrito um especial de quarentena que aborda diversas delas. Está sendo difícil assistir a tantas despedidas. Tem sido difícil saber de pessoas próximas, de minha idade sendo entubada (este é o termo que se usa).


Foi difícil entrar neste novo modelo de vida. Mas tem uma mosquinha pairando por trás de diversas orelhas: e depois? E depois que as ruas se abrirem sem essas pessoas queridas que a quarentena nem permitiu uma despedida? E depois que nossos (as) companheiros (as) voltarem a rotina de trabalho e pessoas, como eu, voltarem a rotina de dona de casa com filho pequeno para criar sozinha?


De fato, passaremos por uma onda de pequenos e grandes ciclos. Nos assustaremos, teremos medo, repensaremos nossas atitudes, curtiremos mais momentos em família. Precisaremos olhar bastante para dentro, saber quem realmente somos, quais os valores que de fato devem importar. Ter o autoconhecimento que determina o dia seguinte.

Afinal, “há mais coisas para ver, mais que a imaginação, muito mais pro tempo permitir. E são tantos caminhos para se seguir... É o ciclo sem fim que nos guiará à dor e emoção, pela fé e o amor! Até encontrar o nosso caminho. Neste ciclo, neste ciclo sem fim!”


O ciclo da vida é sem fim.

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