Hoje é lua cheia em Libra, signo oposto e complementar ao de Áries. Estamos na lunação de Áries, primeira lunação de um ano astrológico. O novo ano astrológico começou no dia vinte de março de 2020 e será regido pelo Sol. Dizem que nos anos regidos pelo sol, é necessário que sejamos corajosos, generosos, autênticos. Dizem também que este ano é aquele que “vai chamar na chincha”. Ou você se conecta ou será desconectado. Não sei se acredito em tamanha bipolaridade dos céus, mas o que sei é que estou sendo chamada, frequentemente, para olhar para o que está ao meu redor com todas suas nuances e cruezas que a realidade é capaz de mostrar.
Fazendo uma limpa na casa nestes dias em que só consigo me concentrar em algo que mexa meu corpo e esvazie minha mente, me vi defronte a cinco grandes sacos cheios de coisas para doar: roupas, sapatos, roupas do Francisco, livros. Percebi que tenho 79 livros na prateleira: 18 lidos pela metade e 43 não lidos. Comprados e não lidos. Eis que me surgiu a vontade incontrolável de terminar tudo o que eu comecei um dia. De livros a crochês (encontrei uma sacola em cima do guarda-roupa e nela estavam minhas linhas coloridas para fazer um artesanato chamado olho de deus).
Ando olhando meu quintal e analisando o que consigo fazer com as minhas próprias mãos. Peguei a enxada e fui capinar um quadrado de mato no qual eu pensava que gostaria de passar um “mata-mato”, encher de pedras e pronto. Mas quando comecei a remexer a terra, a encher minhas mãos de bolhas, encontrei minhocas. Muitas minhocas. E fui ficando com pena de estragar aquela terra. E fui ficando feliz com uma terra boa que eu nem sabia que ali tinha. E fui desejando fazer um jardim de inverno ao invés de cobrir de cascalho. Ainda falta pesquisar as plantas, plantar, regar. Será que terei este tempo? Espero que sim.
Fazia nove meses que Francisco ficava com a babá Verena das 08h às 12h, todos os dias da semana. Pensávamos em contratar outra pessoa para passar algumas tardes com ele para que pudéssemos nós dedicar ao trabalho. Ou colocá-lo na escola, apesar do meu coração ainda achar cedo demais. Hoje, quando eu o fazia dormir na soneca da manhã, notei que o primeiro dentinho dele não fui eu que percebi que estava nascendo, foi a Verena. Que quando ele falou “papai” pela primeira vez, eu também não estava. Tenho me alegrado muito em estar com ele e ainda mais quando ele fala algumas coisas pela primeira vez e durante estas quatro semanas, ele disse: arroz, chuchu, meia, neném (se referindo a ele), shaun (um desenho que ele adora), tim-tim (para brindar o suco antes de beber).
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Depois de um ano sem trabalhar, começava um ano cheio de promessas para mim. A Um D de Lira, minha empresa de comunicação afetiva, estava com cinco clientes. Eu tinha fechado dois eventos (também sou produtora de eventos) e minha renda foi de zero a três mil reais em dois meses. Em duas semanas, minha renda caiu para zero de novo. Me desesperei. Não apenas pelo dinheiro, que em uma dinâmica da vida autônoma faz bastante falta, mas também pelo caminho que havia se construído até então. Foi um balde de água congelante. No entanto, estando na classe privilegiada, branca, que não paga aluguel, que pode contar com a ajuda dos pais e do marido, e tudo o mais de privilégio que ocupo neste mundo, encarei esse tempo de pausa como um tempo em que realmente eu iria parar. Parar para rever, para descartar, para amar os que estão próximos, para cuidar, para reestabelecer minha fé, para, enfim, começar a me alimentar melhor, para retomar a ioga, para tirar meu próprio mato que cresce na beirada da minha calçada. Por isso, e tudo isso, é que esse texto está chegando com um dia de atraso: porque parar significa viver obedecendo um tempo que não está no calendário.
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