Por Marina Oliveira
Aprendi muitas coisas com sua vovó, dentre elas e talvez a mais importante, a importância da família e ao mesmo tempo toda a responsabilidade que ela traz. Mas quem me ensina a ser (a sua) mamãe todos os dias é você. As coisas básicas logo no primeiro dia: trocar fralda, dar de mamar, trocar de roupa...tudo parece ser (e é!) um super desafio!
Com o passar dos dias, novos aprendizados foram necessários e dessa vez não tão práticos: aprender a ter forças de levantar 5x por noite (ou de nem dormir), aprender 35 mil formas diferentes de oferecer comida na introdução alimentar, aprender a lidar com suas cólicas, e quando finalmente vc dorme a noite inteira, tive que aprender a pegar no sono pensando em vc doentinha em seu quarto (confesso que nessa parte ainda preciso de muitas aulas), aprender a lidar com suas birras quando eu estou com tpm...
Ser mãe é mais um papel no mesmo ser humano que não deixa de ser filha, esposa, irmã, colega de trabalho, amiga, neta, prima, cunhada, etc. Por isso, também tem seus defeitos, dias ruins, erros e acertos. Te prometo ser sempre a melhor mamãe que posso ser pra você. Com seu jeito meigo e carinhoso, você me conquista a cada dia e me ensina um amor incondicional que só cresce! Com certeza essa foi a maior lição que aprendi.
Dizem que amor não se ensina, mas aprendemos a cada dia um pouco de cada coisinha que vem junto dele: a cumplicidade, o respeito, o espaço de cada um, vontades e sentimentos. Vc também me ensina tantas coisas que eu espero que nunca esqueçamos. Encerro o post com algumas delas: 1) tudo bem comer um docinho fora de hora; 2) tem dias que vc não está afim; 3) cada conquista deve ser comemorada 35x, no mínimo; 4) sempre, sempre e sempre que alguém chega ou sai deve ganhar um beijinho e um abraço super apertado. Não importa a pressa; 5) visitar alguém que amamos, como as vovós e vovôs, é a coisa mais importante do dia ou da semana; 6) a casa bagunçada é sinal de alegria presente; 7) tudo, sem exceção, é motivo de festa; 8) os momentos em que vivemos cada dia não voltam e, por isso, não devem ser desperdiçados; 9) não há nada mais importante do que vc nessa vida.
[Diário de quarentena] Um dia depois do dia das mães
Por Marcela Elisa
Tem uma foto de quando eu era criança que é assim: minha mãe e eu sentadas em um banco de madeira no salão paroquial da minha cidade natal, Bom Jesus dos Perdões. Eu vestia um vestido amarelo e minha mãe sapatos finos e calças pantalonas. Ela sempre me vestia com vestidos e eu adorava. Até, hoje, aliás, é a minha roupa predileta. Na foto em questão, eu estava chorando, de cabeça baixa e joelho ralado. Ela me abraçava, de ladinho, e falava algo que eu imagino ser: “não chora filha, não foi nada.”
Hoje, se a cena da foto fosse comigo e Francisco, talvez eu tentasse dizer: Chico, eu sei que dói e a mamãe vai passar um remédio para sarar mais depressa.” No fundo, minha mãe e eu talvez quiséssemos, com palavras diferentes, a mesma coisa: ter o poder de acabar com a dor do outro. Mas não temos esse poder, mãe. A verdade é que nosso próprio caminho bem trilhado, com boas intenções, já é uma potência de cura que você não faz ideia!
Muitas vezes me perguntei por que minha mãe é tão diferente de mim. Na verdade, eu sentia e, às vezes sinto, falta de compartilhar os meus íntimos prazeres com ela. Gostaria que ela gostasse de mandalas, incensos, samba de roda ou de Oxum só para eu ter o deleite de contar para ela que acendi uma vela para Santa Sara em honra à energia cigana que ela me trouxe, quando me pariu. Mas aí, olhei para o lado e vi as plantas da minha casa tão verdes que dá gosto de vê e não pude deixar de agradecer aos ensinamentos da minha mãe.
“Terra vermelha não presta para a planta”, “fiz um adubo de pó de café, quer um?”, “ah, essa planta é de sol, por isso que não vai aqui”, “trouxe umas suculentas pra vc. Sol direto, viu?”. Se hoje eu tenho um jardim em construção tão vivo, foi porque ela me transformou em uma jardineira esforçada. Vocês precisam ver a casa dela! Poderia ser chamada de Parque Botânico da Cachoeirinha. Para onde você escolher olhar, tem flor. Desde que começou a quarentena, se eu quero encontrar minha mãe, vou até às plantas. Ou ela estará molhando, ou adubando, ou podando. É bem típico de mãe, né? Cuidando. Mas é preciso cuidar um pouco mais da gente mesma também, sabia mãe?
Eu sou daquelas que insiste para minha mãe fazer exercícios, ler um livro, passear nos finais-de-semana. Por que ela não me ouve? (eu penso). Gostaria de convidá-la para fazer as aulas de ioga da Anita ou da Andrea aos sábados e depois uma café-da-manhã debaixo do guarda-sol que colocamos no quintal. E foi então que eu olhei minhas unhas e percebi que poderia pintá-las de vermelho, igualzinho via minha mãe pintando suas próprias unhas a vida inteira. Se hoje eu sei empurrar a cutícula até desgrudar, manusear o pincel com destreza e (o mais difícil) retirar os borrados de esmalte, foi pelos dias e mais dias que presenciei esta cena com ela sentada toda curvada, mesmo aos sessenta e três anos.
Quando eu passei a enxergar minha mãe retirada do papel de mãe, foi que comecei a ver sua humanidade. Isso foi ontem, dia dez de maio de dois mil e vinte. E olha que já sou mãe há 17 meses! Vivi e vivo na pele a sobrecarga mental, física e emocional que pode recair em nossos ombros; a expectativa com que a sociedade resolveu classificar uma boa mãe e uma péssima mãe; a responsabilidade de ser o mundo para uma criança que mal percebe a si própria. É pesado, eu sei mãe. E eu sei que você sabe que também é sublime. Que o amor é tão enorme que fica difícil se resgatar de um mar chamado maternidade. Mas é preciso, mãe, que sejamos pessoas antes de sermos mães.
Por tudo isso e muito mais que durante minha escrita em sua homenagem, Darlene, não sei se escrevi sobre mim ou sobre você. Ao mesmo tempo percebo exatamente em que lugar eu termino para que você comece. Somos assim. Signos opostos e complementares como estaria em algum caderno de astrologia. Somos você e eu sem nunca nos confundirmos quem é quem e, ainda assim, eu ter herdado o sorriso mais bonito que eu mereceria e ter tido a sorte de ter repassado ao Chico. Você sabe.
Mãe, obrigada pela vida. Você já me deu tudo o que era suficiente. Agora, eu encontro o resto em outro lugar, com a força e a coragem que você me ensinou para que eu possa conquistar o que me é justo. Te amo.
O Segundo filho certamente é diferente
por Lívia Macêdo
“Nasce um bebê e nasce uma mãe”! Nossa como ouvi isso. E eu cheguei a acreditar nisso. Eu acreditava que saberia o que fazer, mas, na verdade, não sabia.
Comecei a buscar informações na internet à medida que as pedras apertavam meu sapato. Fui tentando acertar, me esforçando, sabia que eu poderia ser uma boa mãe. Eu queria ser uma boa mãe. Muita informação me ajudou, mas muito me frustrou também. Parecia que eu não conseguiria nunca! Então, eu dei bandeira branca a mim mesma. A maternidade começou a fluir.
E assim, eu percebi que a maternidade pode ser mais leve. A maternidade passou a ser mais leve quando parei de me cobrar tanto. Quando entendi que eu não sou a melhor mãe do mundo, mas eu sou a melhor mãe que posso ser para minha filha, hoje.
Eu passei a me permiti errar. Não tinha mais tanto problema se minha filha dormisse comigo na minha cama. Até que é gostoso dormir com a pequena ali e eu descanso mais porque ela volta a dormir mais rápido. Isso não quer dizer que ela durma comigo sempre. Porém, ela sempre acorda no meio da noite, eu ou meu marido a pegamos e ela já fica entre a gente. Tem dias que ela já desce da cama e aparece do meu lado: mamãe!
Eu diminui minhas expectativas. Eu achava que Maria andaria aos 9 meses, ela andou aos 11 quase 12. Eu achava que seria fácil a alimentação, ela dá muito trabalho até hoje. Eu achava que ela iria deixar de usar as fraldas até os 2 anos, ela acabou de fazer dois anos e ainda vejo longo caminho pela frente. E agora, tudo bem. Mas eu cheguei a tentar ensinar, tentei oferecer recompensas e entendi que ela não quer. E se ela não quer, caro (a) leitor (a), ela não vai fazer. Quando ela quer fazer xixi no piniquinho, ela diz: xixi mamãe, piniquinho.
As nossas crianças são mais espertas do que pensamos, e elas sabem disso. Hoje, eu tenho menos medo. Quando Maria era bebezinho, eu tinha medo de ela sufocar com a manta que esquentava o frio do inverno, tinha medo de ela cair da cama, tinha medo de rolar por cima dela na cama, tinha medo de tudo que eu pudesse fazer de errado. Hoje, Maria se joga por cima dos brinquedos para saber se ele vai rasgar ou se ela vai cair. Ela olha pra mim e fala: vai cair. E mesmo assim, ela vai. É claro que preciso ter cuidados com ela. É claro que os travesseiros ao redor da cama ainda são usados, mesmo hoje em dia. Todo cuidado é necessário, principalmente porque as crianças testam os próprios limites. Elas tentam alcançar o que não podem, tentam correr cada vez mais rápidos e, principalmente, querem saber exatamente porque você não quer que ela faça tal coisa. Aqui está o x da questão. Algumas vezes, você não vai poder impedir que seu filho se machuque. Ter cuidado é uma coisa, viver com medo não vale a pena.
Talvez esse último parágrafo faça você pensar: ela é doida...eu não vou dar atenção a isso. E quer saber, ai você está certíssima. Não por que eu me ache doida, mas por que confiar no meu próprio instinto me ajudou muito e certamente ajudará a você. Tem tanta bobagem na internet...receitas maravilhosas para fazer o bebê dormir a noite inteira, ou dormir sozinho...Eu conheço vários bebês que dormem a noite inteira, mas me lembro que até 11 anos eu tive pesadelos e ia a noite pro quarto dos meus pais. Maria já acordou diversas vezes com pesadelos. E é fácil de saber porque quando acontece um pesadelo, ela sempre acorda chorando e falando alguma coisa. Como eu, lembrando de como era acordar com pesadelo, vou impedir minha filha de dormir comigo? Ela acorda todas as noites. Sempre me chama. E eu vou. E ela vai saber que sempre poderá contar comigo. Pode até ser que essas receitas de fato façam o bebê dormir a noite toda. Isso, para uma mãe super disciplinada e, esse rigor, não é meu forte.
Hoje, eu curto mais a maternidade. Eu aceito mais a ajuda de meu marido que dá leite no lugar do almoço. Ou da minha mãe que deixa ela pintar as paredes da casa. Aceitos as tias que a enchem de presente. Aceito a babá que cuida dela como se fosse filha. Aceito ajudas que antes não aceitava, muitas vezes por ciúmes, outras por insegurança, outras porque eu queria mesmo fazer do meu jeito.
Hoje, eu entendo que sou o melhor que posso ser agora. E não tenho o tempo que eu gostaria de ter para mim. Então, por muitas vezes, tem mais tv do que eu gostaria. Hoje, eu posso ser a melhor mãe, assim. No próximo filho, certamente serei outra melhor mãe, dentro do que será possível para o hoje, de amanhã.
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