Sabe aquela saudade que você sente de alguém que você ama muito, que você quer estar perto, mas que sabe que é importante um pouco de distância? Afinal, se estiver sempre colada, além de se sentir sufocada, não será possível viver a própria vida. Essa é a saudade aliviada, ou seja, aquela saudade que você sente porque você escolheu sentir e porque é importante sentir para que se possa viver.
E adivinhem? Minha tiquinha foi pra escola. Se eu já estou com saudade aliviada? Tô nada!!!!! Eu coração está do tamanho de uma azeitona. O primeiro dia de adaptação, fui pega-la faltando 30 minutos ainda para acabar o tempo. Ah mas ela estava chorando? Não, eu que não conseguia pensar em outra coisa que não fosse ela.
O segundo dia me controlei bem e fui na hora certa. Chegando lá, ela estava bem, no colo da professora, mas bastou me ver que abriu o berro de saudade. Eu quase choro junto rs.
O terceiro dia foi mais difícil que o segundo. Maria grudou no meu pescoço que não queria soltar mais. Fiquei até a hora de ela e os coleguinhas tomarem o leite e no segundo que ela olhou para frente, eu sumi, como uma mágica. Ela chorou tanto...e eu ouvindo, aflita, esperando a professora me chamar, mas me segurando para não entrar. Tentei entender que fazia parte do processo. Foram 40 minutos ouvindo ela falar: mamãe, carro. Até que ela parou. Eu fui para casa. Quando voltei para busca-la, ela estava brincando, sem nem se preocupar com meu retorno. Até tirei uma foto rs. Cheguei por trás dela e enchi de beijo! Ela adorou e saiu feliz!
O quarto dia foi o mais difícil de todos!!! Eu não consegui sair. A diretora teve que me tirar da sala. E fiquei lá, na recepção, ela chorando de um lado e eu de outro rs. Foi difícil. Quanto tempo? Para mim, foi uma eternidade. Acho que durou, pelo menos, 1 hora. Até que ela parou. E eu fui embora. Arrasada. Sentia como se eu tivesse fazendo algo de errado para minha filha. Como foi difícil! Chega a hora de ir busca-la. Visto minha roupa de forte e vou lá. Ela estava brincando e nem me viu chegar.
Quando chegamos em casa a danadinha me fala: mamãe, carro, escola, brinquedo!
Neste momento, um estralo aconteceu na minha cabeça: Ela estava gostando! Conversei seriamente com ela. Disse que estava feliz que ela havia brincado e que no dia seguinte ela iria de novo e a mamãe não iria mais esperar. Iria sair e voltaria para pegar às 11h, horário combinado para o período de adaptação. E assim fizemos.
No dia seguinte, vesti novamente minha roupa de firme. E acredite, ela também vestiu a dela. Chegou na escola, ela pediu para descer do colo e ir andando até a sala. Chegando na sala, ela não aguentou, deu meia volta e voltou chorando. Mas eu ainda estava com minha armadura e falei firme para ela: filha, a gente combinou que você ficará sem chorar, vai brincar e mamãe volta às 11h para te pegar. Dei um beijo e sai. Firme e forte! Mas essa firmeza toda era só por fora. Por dentro, o coração estava do tamanho de um grão de arroz. Com menos de 2 minutos, ela parou de chorar. E eu fui.
Quando voltei, ela nem me viu. Estava lá, sentadinha à mesa brincando com a
amiguinha. Tirei uma foto e chamei. Ela não chorou e veio correndo pro abraço. O melhor lugar do mundo!
Pronto, Maria se adaptou à escola. Agora, está na hora de aumentar o período. É novo dia de aula. Acordamos e já aviso: vamos tomar o leite, comer uma fruta e ir para escola. Ela responde: mamãe, carro, escola. Está encorajada. No começo, ela falava “não” e chorava só de saber.
Chegamos na escola, ela pede para eu dar a mão a ela e entra andando, com meu apoio, de mãos dadas. Vai firme até a sala. Entra, solta minha mão e some nos brinquedos sem nem olhar pra trás. Eu? Sigo com minha armadura, fingindo ser forte. Afinal, é disso que ela precisa. Volto pra casa com o coração do tamanho de um grão de areia. A casa está vazia. Aquele silêncio. Adianto minhas atividades. Chega a hora do sono dela e voltam as preocupações: Será que ela está bem? Será que vai conseguir dormir com as professoras? Ela nunca dormiu sozinha, sem um aconchego de mãe, de vó ou de uma tia cuidadora. Só vou saber na hora de busca-la. A saudade ainda não está aliviada. Quando deu o horário de busca-la, ela estava linda, sorridente, feliz e descansada. Havia tirado o cochilo dela. Agora, é passar o fds e na segunda, encarar a jornada de 10 horas longe (das 7h às 17h).
Hoje é segunda, e o dia está uma bagunça! Acordamos tarde. Saímos atrasadas para escola. No caminho, o carro quebra. Ligo pra meu marido, paro o carro em um lugar seguro, coloco Maria no colo e lá vamos nós para escola. Ela vai para sala com a auxiliar, já que chegamos atrasada. Vai tranquila, sem nem olhar para trás. Volto para casa, sento para tomar café e....o telefone toca. É a escola dizendo que Maria está com febre, que irão acompanhar, mas que não precisa pega-la ainda porque está aparentemente baixo e sob controle. A tarde, a escola liga de novo. Maria vomitou e a temperatura aumentou. Imediatamente, vou pegar minha filha, molezinha já, até porque dormiu. Ela havia pegado roséola. Foram mais 2 dias afastada da escola.
Agora sim, quinta-feira. Acordo no horário, me organizo e acordo minha tiquinha para aula. Ela já sabe: mamãe, carro, escola! E assim vamos, juntas, vivenciar nosso primeiro dia de independência mãe e filha. A casa? Aquele silêncio. O dia, ensolarado! Tenho tanto a fazer que aceito que esse é o melhor caminho e que ela está bem. E assim, chega a minha saudade aliviada.
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