top of page

Saudades

Foto do escritor: Mestrado MaternidadeMestrado Maternidade

Por Lívia Macêdo


Essa quarentena tem despertado nossos olhares para muitas coisas. Sem dúvidas, o sentimento de saudades têm aparecido com frequência. Saudades de amigos, de parentes, de lugares, de hábitos, enfim, muitas saudades. E sim, isso tem despertado a minha atenção.


Eu particularmente, sinto uma saudade imensa de ser filha rs. Adoraria ter minha mãe aqui do meu lado agora para eu deitar minha cabeça no colo dela e ficar sendo dengada, enquanto choramingo, falando um bando de bobagens, entre ela: mãe, e agora... Adoraria ter a comidinha da mamãe, e a vovó para cuidar da energia da netinha rsrsr

Brincadeiras verdadeiras a parte, a saudade despertou atenção também para como minha filha de apenas 2 anos têm demonstrado sentir. Eu não esperava esse sentimento nela, da forma que ela têm demonstrado.

Ocorre que, às vésperas da quarentena, meu pai veio nos visitar. Quando ele foi embora, os aeroportos já estavam anunciando fechamento. No dia de ele viajar, ele perguntou:


- Maria vai na casa da vovó?

E ela disse: - sim.


Nosso plano era ir pra Salvador no dia seguinte, mas coisas do destino: a passagem foi cancelada por um problema da companhia e meu marido não se sentiu a vontade para passar a quarentena longe do seu local de trabalho. Acontece que Maria sabia que viajaríamos. Desde então, em algum momento do dia, todos os dias, ela pede:

- Mamãe, pra casa, vovó!


E cada vez que ela pede é com mais sentimento.

Um dia, ela falou: - Mamãe, avião, pra casa, vovó!


Então, eu decidi explicar:

- Filha, tem um bichinho deixando as pessoas doentes. E esse bichinho está nas ruas. Por isso, ficamos em casa. Quando o bichinho passar, a gente vai pra casa da vovó.


Ela entendeu tanto que agora ela fala:

- Mamãe, pra casa, vovó! Bichinho passar.



 

Diário da quarentena saudosa

Por Marcela Elisa


Não sou um peixe que vive bem embaixo d’água. Apesar da Bethânia dizer que lá debaixo d’água é mais calmo e colorido, o respiro de todo dia, para mim, é dos momentos mais aguardados desde a alvorada até o entardecer.

Hoje, quando olhei a porta da entrada da casa, fechada para o vento que corria solto, relembrei o espelho - presente de uma pessoa tão querida – e fiquei alguns instantes sem saber se o aperto no peito é saudade do tempo em que éramos amigas ou do tempo em que sua ausência não me fazia falta.

Uma ou outra coisa, o que eu sei é que a saudade dói.

Quando a Ju me deu este espelho, atrás, colocou um recado: “todas as vezes que se olhar refletida, olhe para dentro”. Foi em uma época em que eu me perdi completamente no caminho do sofrimento e não sabia a estrada que me levaria de volta para casa e ela estava lá, como um pequeno guia quatro rodas sinalizando as curvas fechadas que eu ainda viveria.

A gente ria muito juntas. E chorava também. As conversas com ela começavam quase sempre gargalhando e não raro, terminavam naquele lugar em que não é gostoso estar frequentemente, tamanho seu vazio-ladeira-abaixo. Mesmo assim, foram, talvez, quase oito anos de uma relação por vezes desequilibrada e que eu amava profundamente.

Das coisas que mais me lembro da Ju (fora tudo de delicioso que ela tinha), era sua inaptidão para dirigir. Ela tinha um ford Ka e o bateu mais de dez vezes, com certeza! Uma destas vezes, íamos do trabalho para o shopping em Alphaville – SP, quando ela me ultrapassou fazendo graça no volante. Eu ri. De repente, entrei à direita e não a vi mais. No desespero, parei o carro no canteiro da rodovia e caminhei de volta para a estrada principal, quando ouvi: Peluuuda, peluda! (o apelido que ela me deu nem sei por que). Apesar do clima pesado, do motoqueiro no chão e do motorista outro carro atingido tentando acalmar o choro compulsivo dela, todos estava bem, sem ferimentos. Agora, me chamar de peluda no meio da Castelo Branco foi sacanagem! Ah foi!

Me olhar neste espelhinho hoje, no meio desta pandemia que nos assola e nos faz rever concretudes tão delimitadas, trouxe o acalento deste abraço que tanto se faz presente tamanha sua ausência. Brigamos em uma tarde, com direito à discussão, às palavras desmedidas e a incompreensão tão marcada quando se vive uma relação íntima e que ao mesmo tempo, está distante. Me peguei pensando que nosso rompimento não veio desta briga e sim, do que aconteceu depois: o tempo. No nosso caso, os três meses corridos que nos separaram, trouxeram consigo a falsa percepção de que não era necessário colocar em pratos limpos. Mas o tempo não jogou ao nosso favor.

Um dia, vou contar ao Francisco quem foi a Ju na minha vida. E pretendo dizer assim: “filho, ela me ajudou a ser quem eu sou hoje e você iria amar poder desfrutar da risada alta dela.” E saiba, Ju, você existe em nossas vidas.



23 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


Faça parte da nossa lista de emails

Obrigado pelo envio!

  • Grey Facebook Icon
  • Instagram

Blog Mestratado Maternidade

mestradomaternidade@gmail.com

Sua história, nossa história.

bottom of page