Por Marina Oliveira
Conheço pais que proíbem de forma radical o acesso as telas. Não os culpo, ao contrário, admiro. É quase uma tarefa impossível na minha opinião. As telas acabam sendo entretenimento quando não se tem mais criatividade para distraí-los. São até mesmo a fuga dos pais quando estão esgotados, já que uma criança pode nem piscar por horas na frente de uma tela. Sei da necessidade de limitação desse acesso e sou total a favor disso. Só que ao mesmo tempo, sempre fui um pouco refém. O videozinho preferido da Lais por muito tempo foi a única forma dela não urrar no carro, de conseguir dar remédio p/ ela, de distrair num momento de cólica e até mesmo para ajudar a pegar no sono (ao contrário do que muitos dizem). Ela assiste desde os 4 meses, quando eu descobri nas telas um escape para os momentos em que nada mais funcionava. Mesmo sempre tendo acesso à telas, nunca durou mais do que 5 minutos quietinha rs. Até nisso é agitada. Agora com 1 ano e 9 meses é que ela começa a conseguir escolher vídeos sozinha no youtube e, se deixar, fica vááários minutos entretida só com isso. Sabe até pular os anúncios!
Agora na pandemia do coronavírus, me sinto um pouco culpada. A Lais tem ficado muito mais tempo na frente da tela. Tenho que trabalhar e não é por muito tempo que consigo brincar com ela. As saídas durante o dia, que a deixavam entretida, não acontecem mais. Ela mesmo se enche as vezes e vai brincar de alguma coisa, mas passado algum tempo, se lembra dos vídeos e pede novamente. O que eu penso é que é só uma fase como tantas outras pelas quais passamos. Não vou estressar. Ainda mais nesse cenário de quarentena em que estamos vivendo. Se Deus quiser, temos uma vida inteira pela frente para eu ensiná-la que o mundo fora das telas pode ser muito mais interessante do que tem sido nos últimos dias.
Quando a tela reflete o que não vemos
Por Marcela Elisa
Muitas coisas da quais eu dizia “desta água não beberei”, estou praticamente nadando em uma piscina delas: essa é a história de uma mãe que até gostaria que seu filho se interessasse mais por telas do que ele realmente demonstra.
Bom, logo que Francisco nasceu eu era bastante radical. Não ia dar açúcar, não ia gritar quando ele fizesse algo inconveniente, não ia dar o celular na mão dele! Essa última, de jeito nenhum! No entanto, depois de um ano como estou? Perguntando pra ele: Qual você vai querer? E ele responde: O Shaun (Shaun, the sheep)!
Penso que dos caminhos que eu voltei atrás (ou melhor dizendo, dos cuspes que caíram na testa) o acesso ao celular é dos que mais me desagrada e ao mesmo tempo o que mais me salva quando estou naqueles dias estressantes e instáveis seja pelo trabalho ou pela rotina maçante em ser a mulher-maravilha que não somos. Primeiro porque o celular é um instrumento de trabalho para mim, já que eu sou comunicadora digital. Segundo porque acho extremamente desconfortável em ver meu pequeno irritado toda vez que negamos o celular pra ele. É realmente chato!
Mas essa história começou lá atrás, quando ele ainda era um bebê que mal resmungava e vez ou outra, eu pegava o celular enquanto amamentava. Ou quando ele visitava a casa da avó e ela, acostumada em oferecer vídeozinhos na internet para meu sobrinho de dois anos, juntava o Chico no colo e o colocava para ver junto. Ou ainda quando queríamos um minuto de paz para fazer um lanche e o deitávamos no sofá para distrair um pouco. Detalhe: com a TV ligada. Ou seja, a última pessoa que tem alguma responsabilidade nisso tudo é ele, o bebê.
Eu sempre soube do que os especialistas falavam sobre a dependência das telas pode provocar, dos não-aprendizados cognitivos, do prejuízo aos olhos. E posso falar? Não concordo completamente com eles. É claro que não considero a brincadeira ideal, no entanto, assistir um pouco de televisão ou aprender a mexer no telefone são coisas que não conseguiremos privar nossos filhos cedo ou tarde.
“Ah, Marcela, mas deixa para quando ele estiver mais velho!”.
Sim, era o que eu gostaria de ter feito. Mas não consegui. E diante deste cenário já estabelecido, o que eu tenho feito? Bom, estipulo um tempo máximo. Aliás, o Francisco nem se interessa muito por esses vídeos de músicas infantis (a maioria, péssimas). O que ele gosta de verdade é de mexer, de passar o dedinho na tela e mudar o vídeo, de se ver interagindo com aquele aparelho. E eu, sinceramente, não sei se isso é melhor ou pior. Mais do que me preocupar com ele se tornar uma criança apática (daquelas que não saem de frente da TV nem por reza braba), me preocupo em ele não se transformar em uma pessoa sem paciência, que não aguenta esperar um vídeo terminar e já quer pular para o próximo. Eis a questão que me rodeia e que eu começo a tomar providências!
No mais, como eu convivo intimamente com ele, já que estou com ele quase que o dia todo, converso constantemente sobre a prática da paciência, da tolerância com o ócio, da aptidão para se entreter com coisas que não brilham e nem fazem barulho. Na verdade, é um treino para mim também. Neste ponto da maternidade, a gente já aprendeu que educar é também nos educar, não é mesmo? Então, porque não fazemos o exercício de limitar nossos acessos ao computador e celular, por exemplo. Será que a gente dá conta?
Nós e as telas: relação de amor e ódio.
Por Lívia Macêdo
Ainda nas primeiras consultas, a pediatra de Maria anunciou: telas, só após os 2 anos! Dois anos! Aquilo me chocou.
Fui pesquisar e, de fato, a soma dos possíveis malefícios causados pelas telas de computadores, celulares e televisores são infinitamente maiores que os possíveis benefícios. Então pensei: poxa, eu não precisei de nada disso quando era pequena, então minha filha tb não precisa. Eu consigo esperar até 2 anos!
Confesso que me esforcei. Inventava brincadeiras com ela, mesmo sem ela ter reações (quando novinhos, as reações ou são muito rápidas, ou simplesmente não acontecem). Fazia exercícios físicos e massagens com ela, levava para passear, buscava outras mamães com bebês para interagir. Qualquer atividade era melhor que deixa-la na frente da tv, nem que fosse colocar dentro de uma caixa de papelão com frutas e brinquedos.
Acontece que a sanidade de uma mãe encontra limites como necessidade de vida própria ou enchimento de saco mesmo. Com o tempo, Maria foi ouvindo música, ainda que de costas para tv ou sem ver a tela do celular. Com um ano, a tv me venceu. Eu precisava adiantar o meu texto do mestrado, Maria já estava super ativa e entediava com facilidade. Cedi. E foram os 20 minutos mais tranquilos da minha vida de mãe hahaha.
Durante os meses iniciais, mantivemos o limite de 20 a 30 minutos por dia, no máximo de tela. Hoje, porém, ainda não com 2 anos, ela assiste em média a 1 hora de tela por dia, espaçado em diversos momentos. Ela já sabe como escolhe o clip que quer ver, o jogo que quer jogar. O lado bom é que como evitamos muito celular, ela prefere ver os desenhos na tv mesmo e ai consigo certa distância, mas usa o celular em diversas outras vezes.
Uma situação constante é na refeição. Ela sempre deu trabalho para comer. Come bem, mas precisa brincar e se distrair. No início, o local da refeição virava uma bagunça de tanto brinquedo. Hoje em dia, o celular ganha. Eu sei, tá tudo errado, mas honestamente, é o que funciona aqui. Se não for assim, tenho que ficar correndo a casa toda atrás dela e mesmo assim ela não vai querer comer direito.
Pra melhorar a coisa, estamos em quarentena né mesmo?! Sim, a quantidade de horas de tela por dia aumentou. Gente, nós brincamos, arrumamos a casa juntas, corremos na sala, mas chega uma hora que não dá. Não tem mais o que inventar, já bateu o cansaço, a criança já quer sair de casa. A solução: a tela. E a consequência imediata: ela não gasta energia suficiente para querer dormir a noite e fica agitada demais, querendo brincar, brigando contra o sono.
Eu e as telas formamos uma relação de amor e ódio: eu sei que elas não são boas para
visão e não são as melhores formas de desenvolvimento do bebê, mas cedo a praticidade delas. O que procuro fazer para minimizar isso? Procuro deixar períodos mais curtos de tempo, espaçados pelo dia, e procuro colocar programas em outras línguas ou que ensinem alguma coisa. Isso não vai fazer com que ela cresça bilíngue, mas vai fazer com que os dois lados do cérebro dela trabalhem. Acho que minha culpa fica um pouco menor assim rs.
Comments