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Uma relação a dois que ganha um filhx não se transforma, apenas, em uma relação a três. Na verdade, se transforma em algo nunca antes experimentado por nenhum dos três. É algo inusitado. E como lidar com algo que a gente nunca viveu? Como estar preparado para o novo?
Desculpe, não há maneira de ler uma cartilha e viver o casamento depois da chegada do bebê. Conversei com muitas mulheres, homens, minha avó, meus amigos e todxs dizem a mesma coisa: É preciso ressignificar. Mas ressignificar o quê, pergunto, aflita por uma resposta certeira. Ressignificar quem são vocês depois do Francisco, Marcela (me diz, com muita paciência, a obstetra).
Pedro e eu estamos juntxs há cinco anos e de lá para cá, mudamos quatro vezes de casa, fomos viajar de mochilão, não tínhamos rotina para almoço e jantar e nossa vida era cheia de planos de estudos, projetos fora do nosso Estado e, possivelmente, uma vida no exterior. Aí veio
o Francisco. Chico foi bem planejado. Muito quisto. Tivemos um aborto antes dele, então, quando soubemos que estávamos grávidos, piramos de felicidade! E de medo.
De lá para cá, além de nos desdobrarmos para cuidar do nosso pequeno, estamos em um processo contínuo de ressignificação da relação, afinal de contas, o Pedro passou de meu esposo para pai do meu filho e isso é uma tremenda mudança. Não que ele tenha deixado de ser meu companheiro, meu marido, mas posso afirmar: é uma relação em que no meio de um beijo, há um choro de quem acordou com medo ou no meio de um jantarzinho romântico, há um gritinho de quem quer mamar. Haja vontade de recomeçar!
E é basicamente no que se transformou meu casamento: um recomeço todos os dias. Quase tudo o que conhecíamos um do outro tem um peso maior. Os pontos fortes ficaram mais fortes e os pontos fracos, mais fracos. E nessa de olhar com o espanto da novidade para aquele que se deita e acorda ao meu lado há tantos anos, descobri o Pedro pai, o Pedro amigo, o Pedro amante. Todos eles, eu nunca havia encontrado antes. E isso, ao mesmo tempo em que dá aquele frio na barriga de começo de namoro, também dá o frio na espinha daquilo que não conhecemos direito. Será que vai dar certo?
É nessa hora em que entra a parceria e a disponibilidade. Para conhecer o outro novamente e para se conhecer com o mesmo afinco. Francisco acaba de fazer um ano de idade e ainda nos olhamos, os três, como família, e surge um ar de estranhamento e encantamento. Como se ainda nos perguntássemos: somos nós mesmos? Em seguida, sorrimos. Sim, agora somos nós três. E não sabemos ser três ainda. Às vezes acho que nunca saberemos e isso torna nossa jornada ainda mais instigante para mim.
Já pensei um dia que talvez, com a chegada de um filhx no casamento, a força do casal fosse vir à tona. Ou que fosse descer ladeira abaixo. A real é que um filhx chega para expor a todos da família a uma nova configuração. E ninguém sabe lidar com isso a ponto de passar ileso. O que eu faço é permitir o atrito, permitir que a casca saia, permitir que surja e que vá embora tudo o que tiver que ser. Só assim saberemos...ou melhor: será que há algo a saber?
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